quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Frenético.

Carta ao amigo escrita em 31/12/2009:

"che loco,

como twittado hoje por mim:
'2009: louco, veloz, confuso, surreal, intenso, vivo, emotivo, radical, selvagem, lindo, assustador... frenético. ufa.'

foi tudo muito rápido e non-sense e essa última semana ta ainda mais intenso e louco e novo, é como se fosse um resumo do ano.
foi uma explosão de sentimentos e sensações, uma revolução em tudo.
sem dúvida o mais marcante até agora.

e o bom é que 2010 promete ser a mesma coisa multiplicada por 10.

feliz ano novo pra ti, pra nós!"



E foi. Não sei se multiplicado por dez, dois ou vinte, mas foi. Posso repetir todos os adjetivos citados acima. Mais um ano elétrico, recheado, potente.
Janeiro, o mês que não dormi. Trabalho escravo, festa libertadora. E aventuras malucas. Assim sobrevivi sem fechar os olhos e sem, talvez, respirar.
Bons ares vieram em fevereiro com a nossa viagem à Argentina. Lugar bonito, pessoas animadas, histórias para a vida.
Em março retiro minha gravata pela última vez no ano. Agora sim, respiro. E muito, pois o ar é cítrico e o vento é forte. Quando percebi, os primeiros acordes de "Welcome to the Jungle" já estavam sendo tocados na minha frente. Inacreditável - primeiro show do ano. E logo depois já veio o Franz de carona. Bom mês também para começar algo novo, algo que sempre tive curiosidade. Era difícil acordar aos sábados pela manhã, mas ao final das aulas a recompensa era grande. Mais uma vez, não me arrependi de ter arriscado.

Depois, abril e maio. Tudo fica confuso, tudo troca de lugar e a noção de tempo não há mais. Nem outras noções.
Quinta marcha, velocidade máxima.

amigos, laika, combo, open, dj, vômito, aulas (?), bolos de chocolate, ansiedade, vou, não vou, pessoas, amigos, lindos, lindas, grrrs, tepa, gasômetro, cinema, boteco, morte, vergonha, 39, loucura, bebida, porão, independência, colchão da mari, tepa, mímicas, amigos, sono, entusiasmo, setlist, padrinho, moby, perdido, vodka, agonia, sensual, engraçado, arriscado, curioso, coragem, criatividade, medo, satisfação, amor, como é bom, correria, chuva, café, cerveja, xirú, buzina, música, dança, gritos, carro, som, festa, bebida, leve, combo, louco, dança, sensual, perdição, amigos, volta, cuidado, choro, triste, confuso, ressaca, feliz, triste, confuso, confuso, completo, vazio e confuso.

Agora pára. Relaxa. Bem calminho... Respira bem fundo e fecha bem os olhos. Dorme. Isso...
Acordou, abriu os olhos e o outro lado do mundo diz oi pra ti. Tudo novo. É junho. E é verão.
O tão aguardado chegou. Acelera de novo até setembro!

hostel, francesas, alemãs, espanholas, delfin, temple bar,  etienne, daft, aluguel, pj, henrietta, casa, delfin, colegas, amigos, italianos, coreanos, espanhóis, verão, futebol, st. stephens, oscar, paluza, blink, mgmt, venga boys, londres, edimburgo, festas, despedidas. E mais, e mais...

Em setembro recebo a visita da minha irmã e todos juntos partimos pra uma bela eurotrip. Bruxelas, Amsterdam, Paris, Strasbourg, Frankfurt, Nuremberg, Praga, Walkertshofen, Munique (Oktoberfest!), Innsbruck, Verona, Brescia, Milão, Lyon e Paris de novo. Lindo.

Com nossa volta, em outubro, o inverno já estava dando às caras. O tempo começou a escurecer. Começou a andar com mais calma também, mais arrastado... Teve Lady Gaga no último dia pra trazer um ar mais agitado, mas depois o frio tomou conta outra vez.

Em novembro, Dublin começou a me agarrar com mais força e eu senti que poderia ser interessante. E talvez perigoso. Curiosamente foi no mesmo momento que percebi que em 2011 seria hora de honrar as raízes por 3 meses em Berlim. E teve também Foals e Klaxons.

Finalmente, dezembro. Começou com tudo. O show mais bonito que já vi na vida - Arcade Fire. Vampire Weekend e Two Door Cinema Club também não decepecionaram. Kings of Leon talvez. Faz parte...
Estava tudo muito bom, as coisas estavam funcioando dentro de uma engrenagem muito bem elaborada. Nem tanto...
Algumas peças caíram, foram embora (como sempre vão) e nada mais quis funcionar. Nada mais deu certo - muito pelo contrário. Resisti. O quadro colorido da parede desbotou. Resisti. A fumaça tomou conta da minha cabeça. Caí.

Agora já levantei, pois sei que vai começar tudo de novo. E eu quero mais, eu quero tudo. Não sei o que, mas eu quero. E eu to animado, eu to sentindo, eu vou conseguir. É lindo e é forte.

É 2011. Mais um ano que promete intensidade.
Ano novo; ano bom.
Deliciosamente selvagem.
Ou apenas... frenético.

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Prime of my life. O meu prime é agora. E o seu?

?

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Acontece.

Quando leio o que tá escrito no texto abaixo me vem à cabeça:




Acontece.

TEMPO

 Do meu texto Indigestão de maio: "Queria escrever que não sei se o tempo existe. Eu acho que não. Não sei, na verdade. E não to falando de horas, minutos e segundos. Isso eu já sei que não existe."

Vou falar o meio que óbvio, mas hoje eu vi tudo mais claro na minha frente. Veja bem, é bem madrugada e tamo todo mundo voltando de festa:

OK, to voltando de uma festa (já disse isso). Tomei bastante cerveja e tequila. Mas não consegui aproveitar minha festa direito. Fiquei pensando bastante em um assunto (hahahahaha, que exagero).

Tudo começou quando o Paluza disse que ele achava que o lugar em que a gente tava era maior da última vez que ele tava lá. Isso porque da última vez ele tava bem bêbado. Isso fez com que eu pensasse no assunto. É verdade. Quando estamos bêbados percebemos o nosso espaço físico maior. Talvez seja por isso que nos batemos tanto e perdemos a noção de espaço quando alcoolizados. Paluza gênio.

Da mesma forma, sob efeito de bebidas, a nossa percepção de tempo também muda bastante. Pelo menos para mim e para a  maioria das pessoas, ao beber, o tempo passa infinitamente mais rápido. Tem festas que acabam em 10 minutos, por exemplo, quando lembro no outro dia.

Ao analisar esses fatos, pensei que a que era possível mudar a nossa percepção de espaço e tempo. E fiquei com isso na cabeça. Lembrei da fórmula Velocidade = distância/tempo.
Se a distância aumenta e o tempo diminui, logo a velocidade fica constante. Portanto a velocidade seria a variável que rege o nosso mundo.

Entretanto isso não me satisfez. Com a ajuda do Cesar, percebi que com álcool no nosso cerébro a gente percebe tudo mais lento. Então a velocidade não poderia ser constante, pois a gente percebe coisas como o luzes piscantes ou "strobes" com uma velocidade diferente, uma velocidade menor. Isso me incomodou um pouco... Não só o fato da velocidade ser menor, mas também o fato de que aquela luz branca naquele intenso acende/apaga/acende/apaga quase me cegou.

Mas todos tem que concordar que quando bêbados a nossa percepção de espaco aumenta de uma forma diferente do que diminui nossa percepção de tempo. Por exemplo, se a percepção de espaço é "X", o nosso espaço aumenta pra 2x. Entretanto, se a nossa percepção de tempo é "Y", ela diminuiu pra Y/10. A percepção de tempo diminui numa proporção maior do que o aumento do espaço. Enquanto a festa resumiu-se a 10 minutos o ambiente físico dela havia aumentado não mais que 7 metros quadrados (não sei fazer o "m" com 2 em cima nesse teclado)

Deste modo, através de uma complexa manobra matemática, poderíamos isolar o T na fórmula mágica anterior. A fórmula "certa' seria T = D/V, pois. O que muda na gente é a percepção da velocidade. Quando a nossa percepção de velocidade diminui, o tempo também diminui e o espaço aumenta. Quando nossa percepção de velocidade aumenta, a duração do tempo aumenta e o nosso espaço diminui.


Mas qual velocidade seria essa já que velocidade precisa de um referencial? Não, sei. Talvez seja a velocidade da luz. Pessoas mais inteligentes e que conhecem sobre o assunto poderiam me responder.

De qualquer forma, o que importa para mim é o fato de que eu, e nós, podemos controlar o tempo. O tempo não existe da forma que o imaginamos. É apenas uma concepção. E podemos alterá-la!!! Basta alterar a nossa percepção da velocidade da luz... Porém, minha ignorância não permite dizer com quais meios podemos fazer isso aleém do já citado anteriormente =/

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Master of the obvious?!
Sim, são quase 6h da manhã e to voltando de uma festa forte. Esqueça tudo isso!!!
Apaga isso, queima ele, jesus!
Vamos dormir

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Arcade Fire

Foi uma das coisas mais bonitas que já presenciei.
Eu não considerava a banda como uma das minhas favoritas. Gostava sim, bastante, de várias músicas.
Porém nunca tive a oportunidade de sentí-las.
Esta noite eu tive.

Era como um raio, uma explosão. Te atingia por completo, um transe total.
Lindo demais ver a vida sendo esparramada pra fora por tanta gente. Medo, amor, saudade, esperança... Tudo isso sendo libertado a plenos pulmões por almas verdadeiras.
Eu senti. Eu me arrepiei. Eu vi que era sincero, percebi que era possível.
Eles fazem, eles podem... Eu posso!

Um novo conceito de show para mim. Espetáculo Esplêndido Espetáculo.
Algo mais profundo que a visão e a audição e que qualquer outra coisa.
Algo para ser admirado, perdido, morrido, vivido, sentido, queimado, doído e acendido.
Sem culpa, nem temor. Nem arrependimento. Apenas feliz.
Apenas simples assim.


Admirei e penetrei nos arcos. Me perdi. Mas não morri.
Vivi.
Senti e toquei no fogo. Me queimei. Mas não doeu.
Acendeu.

Obrigado.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Entrevista com o Espelho

Abaixo, colo a entrevista na íntegra para vocês:


"Na última semana, nossa equipe esteve na casa de Rodrigo Strassburger, um brasileiro que vive há quase seis meses em Dublin, na República da Irlanda. Rodrigo tem 20 anos e já completou cinco semestres ("ou quase isso", como prefere dizer) do curso de Ciências Contábeis na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No início deste ano, decidiu trancar a faculdade para buscar "mais uma experiência de vida diferente do comum" e contou com o apoio de sua família e amigos para que alcançasse tal objetivo. Visitamos o apartamento no qual atualmente mora, no coração da capital irlandesa, e fizemos algumas perguntas a ele a fim de descobrir um pouco mais sobre essa sua aventura no outro lado do Atlântico.


Rodrigo, conte-nos um pouco sobre como e por que você decidiu trancar seus estudos no Brasil para encarar essa experiência na Europa.

Bom, eu achava que o momento era esse. Em março de 2009, eu recém tinha voltado da minha primeira experiencia de intercâmbio, na qual morei e trabalhei em Salt Lake City, nos Estados Unidos. Quando eu voltei, eu estava decidido a me concentrar nos estudos, adiantar a faculdade e iniciar uma boa carreira na área de contabilidade. Comecei a me preparar para alcançar esse objetivo e em agosto do mesmo ano fui contratado por uma das grandes empresas mundiais de auditoria contábil.

Infelizmente, a realidade das aulas da faculdade e a realidade do meu emprego não estavam me agradando. Sentia uma profunda insatisfação e uma revolta com tudo que estava à minha volta. Achava as aulas extremamente desinteressantes e o meu ambiente de trabalho um completo inferno. Sabia que não aguentaria aquela situação por muito tempo e que eu não merecia uma vida como aquela. Eu estava sozinho em meio a loucos repugnantes e me sentia totalmente vazio.

Era hora de mudar. Precisava conhecer lugares, conhecer pessoas. Precisava encontrar algo diferente, algo que preenchesse o meu vazio. E eu estava disposto a isso, tinha toda vontade e coragem necessária. Foi então que o Cesar e o Vicente, meus amigos e colegas da UFRGS, surgiram com a ideia de morar por 1 ano na Europa. Eles me convidaram e eu aceitei. Na época do convite eu estava recém iniciando no meu novo emprego, porém eu já estava de saco cheio de tudo. Eu senti que o momento de fazer isso era aquele, era agora ou nunca, uma chance única na vida. A oportunidade apareceu e eu aceitei na hora.


Fale um pouco sobre a sua rotina em Dublin, coisas que você geralmente gosta ou não gosta de fazer e também um pouco sobre a cidade em si.

Bem, o esqueleto do meu dia-a-dia é formado pelo curso de inglês, que começa às 9h45 e vai até às 13h. As aulas são bastantes dinâmicas e divertidas, então não é nenhum sacrifício acordar cedo para ir até a Delfin. Após a aula, a gente se reúne juntamente com o Paluza - no apartamento dele ou no nosso - para fazer o almoço. Levamos umas boas duas horas para preparar, cozinha, degustar e limpar tudo. Temos um cardápio que já está bastante diversificado, variando entre pratos que envolvem receitas com massa e vários tipos de molho, arroz, frango, ovos, coração de galinha, carne moída, peixe, brócolis e outros. Para quem no início sobrevivia apenas de massa, isso já um fenomenal avanço!

Terminado o almoço, agora no inverno possuímos apenas mais cerca de uma hora de luz solar. Esse fato, em conjunto com o frio e a sujeira que é a neve, acaba desencorajando uma eventual saída (ou aventura!) fora de casa. Contudo, quando tenho vontade - ou por necessidade -, acabo dando uma volta pela cidade, indo ao banco, ao supermercado para comprar coisas ou passando pelas lojas da Henry Street pra dar uma olhada. No verão eu costumava ir até o parque St. Stephen`s Green para ler e relaxar na grama enquanto tomava um café, mas agora isso não é mais possível. Então, se eu opto por ficar em casa, eu aproveito meu tempo para ler, estudar, escutar música, escrever para o meu blog, conversar com amigos e ver coisas interessantes ou inúteis na internet. Atualmente estou lendo "On the Road" de Jack Kerouac e também tenho ocupado meu tempo com os cursos que a Universidade de Yale disponibilizou de graça há algum tempo no seu website para aqueles que tenham curiosidade. Os cursos de psicologia, filosofia e música são bem interessantes!

À noite, eventualmente acontecem encontros ou festas com amigos ou colegas de curso em algum pub ou algum jogo de futebol que a gente acompanha pela internet. Caso contrário, eu fico em casa, ajudo na preparação da janta e continuo fazendo alguma das coisas que citei anteriormente. Todas as terças, também há uma oficina de teatro da qual participei durante um mês, inclusive ajudando no backstage de uma peça muito bem produzida. Porém, confesso que durante o mês de novembro tem faltado motivação da minha parte para caminhar por 40 minutos para ir e 40 minutos para voltar sob uma sensação térmica de -5°C.

Enfim, Dublin não é uma cidade muito grande. Isso pode ser um ponto positivo se analisado pela perspectiva de que é possível ir até praticamente todos os pontos interessantes da cidade caminhando. No entanto, realmente não há muitas opções de entreterimento, especialmente durante a temporada de neve. Prefiro muito mais uma cidade como Londres, onde é necessária a utilização do metro para chegar em diversos lugares, mas que, por outro lado, possui um leque de opções infinitmente maior.


Você tem a fama de ser um grande apreciador da vida noturna. Você considera Dublin uma boa cidade nesse quesito?

 Não sei onde vocês conseguiram essa informação! (risos). Mas seja lá quem for o informante, ele não está mentindo. Realmente uma das minhas grandes paixões é sair com os meus amigos para dançar e me divertir em alguma festa com música boa e pessoas legais. Quando eu ainda estava no Brasil, eu tinha a ideia de que as festas em Dublin seriam extremamente melhores do que as que eu frequentava em Porto Alegre. Fiquei bastante desapontado quando percebi que a realidade era bem diferente daquilo que eu havia projetado. Entre os pontos negativos, posso destacar o horário de funcionamento das festas. Elas começam a "bombar" perto de 00h30, mas às 2h30 já estão se preparando para fechar as portas. Duas horas pra mim é muito pouco! Além disso, aqui temos uma espetacular oferta de pubs com boas bandas tocando música ao vivo, mas quando o assunto é festa, balada mesmo, a oferta diminui drasticamente. É bem difícil achar algum lugar interessante para ir.

Olhando por outra perspectiva, talvez eu não considere as festas daqui tão boas quanto às do Brasil por motivos mais subjetivos. Por exemplo, segundo o meu critério, para eu classificar uma festa como excelente eu preciso de apenas três elementos: um grupo de amigos animados, música boa e bebida barata. Aqui em Dublin eu só encontro um lado dessa espécie de triângulo criada por mim: a música boa. Bebida barata é muito difícil, pois a Irlanda é um dos países em que os alcoólicos têm o preço mais alto da Europa. Quanto ao grupo de amigos animados, é também uma questão complexa, pois o nosso círculo de amizades é muito dinâmico. Toda semana grandes amigos, ou potenciais amigos, voltam para seus países de origem, sem que haja tempo suficiente para fortalecer uma relação de amizade mais madura com eles. Logo, fica bastante complicado de eu achar alguém que acompanhe meu ritmo!

Todavia, tudo tem o seu lado positivo, por mais que o lado negativo impere. No caso, com essa experiência, eu vou passar a dar muito mais valor ao que eu tenho na minha terra, não é verdade? Lá eu sei que o meu triângulo vai estar completo!



Você divide o apartamento com outros dois amigos seus. Como está a relação entre vocês três vivendo juntos no mesmo apartamento após tantos meses?

Está muito boa. Antes de virmos para cá, algumas pessoas falavam que, por mais que já fossemos bons amigos, teríamos problemas devido ao longo tempo de convivência. Até agora, felizmente isso não ocorreu e acredito que nem irá ocorrer. Nós nos respeitamos bastante e tudo funciona na base do bom senso. Por exemplo, não possuímos nenhuma espécie de regra ou programa a seguir para decidir quem vai cozinhar, limpar a casa ou lavar a louça no dia. Tudo acontece espontaneamente. Se eu não estou a fim de ajudar na preparação da comida, eu vou ajudar depois na limpeza da cozinha e vice-versa. Não é necessária cobrança entre as partes para que determinada tarefa seja realizada. Essa falta de cobrança e o uso do bom senso evita eventuais brigas ou discussões bobas entre a gente e com certeza é o fator fundamental para a nossa boa convivência.

Há também a questão do "quarto do líder", que é o quarto em que há apenas uma cama e a pessoa pode dormir sozinha. No início, tentamos criar uma regra que dizia que a cada domingo trocaríamos a pessoa detentora do direito de ser o "rei". Entretanto, era muito trabalhoso fazer essa mudança todos os domingos. Depois, tentamos adotar uma espécie de competição cujo vencedor receberia como prêmio o almejado quarto. Porém, se continuássemos com esse método, teria gente que iria conseguir desfrutar da privacidade só agora no mês de novembro! (risos).  Então, com o tempo, acabamos utilizando a regra do bom senso também para esse caso. Quando alguém percebe que já está há muito tempo usufruindo dos inúmeros privilégios que tal quarto pode oferecer, a pessoa oferece essa regalia ao próximo da fila e assim por diante.

Portanto, podemos afirmar que o grupo está fechado, como diriam os jogadores de futebol, ou que a gente é uma família, como diram os BBBs.


Você já conheceu pessoas que você já pode considerar como grandes amigos e de quem você não pretende perder contato no futuro?

Felizmente, posso dizer que sim. Aqui as principais amizades surgem na escola, porém a maioria dos alunos são europeus e vêm para cá para estudar por apenas algumas semanas. Portanto, acabamos criando laços maiores com aqueles que porventura ficam por aqui por um período de tempo maior. É o caso do Rafael Paluza, de Curitiba; a Hyelim Kim, cujo apelido é Lim Lim, da Coreia do Sul; a Sara e o Alex, da Itália, e o Oscar, de Madri.

O Paluza eu conheci por acaso pela internet quando ainda estávamos no Brasil. Tornamo-nos amigos virtuais e quando ele chegou aqui, um mês depois da gente, ele passou a ser um grande amigo nosso, chegando a morar conosco por algumas semanas enquanto procurava um apartamento para ele. Agora ele mora aqui perto e está toda hora enchendo o nosso saco! Com certeza manteremos o contato com ele quando estivermos no Brasil, seja em Porto Alegre, seja em Curitiba ou em outra cidade qualquer.

A Lim Lim é uma coreana que possui um coração enorme. Está sempre de bom humor, ri de qualquer coisa, participa de todas nossas festas, está sempre disposta a ajudar... Enfim, um exemplo de amiga. Além disso, de vez em quando ela cozinha um delicioso jantar coreano para a gente e quase em todo o intervalo de aula ela me dá um chocolate! (risos). Ela disse que gostaria muito de visitar o Brasil, o que eu penso que seria uma experiência muito engraçada e que eu adoraria que acontecesse!

A Sara e o Alex são um casal meio, digamos, exótico. Demoramos um mês para perceber que eles eram namorados, pois o relacionamento deles é estranho assim mesmo. Mas, o que importa, é que ambos são pessoas maravilhosas. Foram excelentes amigos enquanto estiveram aqui em Dublin e, quando visitamos a cidade deles na Itália, eles foram duas vezes excelentes. Mostraram-nos toda Brescia e nos presentearam com uma cesta básica de comida italina, que, claro, é "a única comida que presta no planeta". A Sara virá nos visitar novamente semana que vem e ela pretende ir ao Brasil em 2011, assim como a Lim Lim. Estamos ansiosos para que isso ocorra também!

Já o Oscar foi o cara que mais agitou Dublin e a Delfin na história. Com seu jeito hiperativo, engraçado e companheiro, foi outro grande amigo nosso durante o verão. Não havia final de semana sem festa e quarta-feria sem Diceys quando ele estava aqui. Semana passada, ouvimos uns gritos vindos do lado de fora da casa e, quando vimos, era ele batendo na nossa porta. Ele veio de surpresa passar um fim de semana com a gente. Curtimos bastante e todos nós sabemos que temos um lugar para ficar quando estivermos em Madri e a recíproca é verdadeira caso ele visite Porto Alegre.

Fico muito feliz ao pensar nas amizades que fiz aqui. Isso só deixa mais claro que o mundo é realmente enorme e que podemos encontrar pessoas especiais em qualquer canto do planeta. Meio piegas, mas é a realidade.


No início da entrevista, você disse que no Brasil você sentia que faltava alguma coisa no seu interior. Você conseguiu achar aquilo que você procurava para preencher o seu "vazio"?

Não. E não creio que um dia eu vá achar, pois nem sei o que é! (risos). Falando sério, acredito que o vazio era apenas um estado de extrema insatisfação com tudo e uma vontade enorme de conhecer coisas novas, de sair daquela pacata rotina. Era também uma busca por novas visões que de alguma  forma pudessem agregar ao modo como eu vejos as pessoas e o mundo. Obtive isso no meu primeiro intercâmbio porém precisava de mais visões. Foi viciante. Se o vazio era realmente isso, então eu posso afirmar que encontrei o "recheio", mesmo que eu não tenha percebido do que ele é feito ainda.


Então quer dizer que você se considera satisfeito com essa sua experiência?

Ainda não, pois ainda não colhi seus frutos, mas espero fazê-lo no futuro. Vou explicar: enquanto eu vivia nos EUA e logo depois que eu havia voltado para o Brasil, eu pouco tinha mudado na minha forma de analisar os fatos. Porém a mudança foi ocorrendo aos poucos, ao longo dos meses seguintes. Eu comecei a achar muito curioso o comportamento das pessoas sobre determinados assuntos e passei a indagar muito a "lógica natural" imposta pela socieade em algumas áreas. Foi uma mudança interessante e positiva, no meu ponto de vista. E, na minha opinião, foi resultado da minha viagem. 

No entanto, no momento em que estamos "vivendo a viagem" talvez não sejamos capazes de assimilar tamanha quantidade de novas informações nem a dimensão e a grandeza disso tudo. A mudança vem com o tempo, depois de reflexões, depois de baixar a poeira. Só então torna-se possível analisar os pontos bons e ruins das esferas "vida agora" e "vida fora" e escolher aqueles que melhor se moldam à sua personalidade e à sua percepção de mundo.


Você não sente saudades da sua cidade, da sua família e de seus amigos? Como lidar com isso?

Claro que sinto e acredito que todo mundo sentiria. Porém é preciso ter em mente que a saudade faz parte do momento e o momento vale a pena. Já parei algumas vezes para pensar como seria se eu decidisse voltar para casa agora e percebi que, além da saudade, o que me faz ter vontade de retornar é a curiosidade de ver como as coisas estão na minha "vida real", se é que posso chamá-la assim. A questão é que, por experiência, eu sei que continua tudo praticamente igual. E isso choca bastante a gente nos primeiros momentos pós-retorno, pois temos a noção de que 3 meses ou 1 ano é tempo demais, quando na verdade não é. Foi incrível como eu fiquei em "estado de choque" nas primeiras semanas após o retorno dos EUA. Eu reclamava para minha mãe que estava me sentindo estranho, mas não sabia explicar por que! (risos).

Observando agora, talvez esse meu "estranho" fosse fruto das expectativas que eu tinha de que muita coisa estava diferente, sendo que absolutamente nada havia mudado na minha vida. Por isso eu me esforço pra anular a curiosidade e tento me concentrar nas coisas boas que acontecem ou que podem acontecer por aqui. Quando tudo começa a entrar numa monótona rotina, é hora de criar ou viver algo novo. E é isso que venho tentando fazer.

Por outro lado, anular a saudade é algo mais complicado, senão impossível. O que podemos fazer é minimizá-la através da internet, o que muitas vezes tem o efeito contrário, pois compartilhar bons momentos virtualmente não é nem de perto a mesma coisa do que na realidade. Então a vontade de estar fisicamente ao lado da pessoa de quem tu gosta acaba aumentando! Não há o que fazer, mas, pessoalmente, eu tento manter a ideia de que "um ano passa muito rápido" bem viva na minha cabeça. Talvez adiante para algo.


Para finalizar, quais seus planos para o seu futuro próximo?

Fazer com que a segunda metade da minha viagem seja tão proveitosa quanto a primeira. Já estou bastante ansioso para a próxima semana, pois será a "semana dos shows", um termo bastante criativo criado por mim e pelo Cesar. (risos). Estou muito feliz com a oportunidade de poder ver ao vivo Vampire Weekend, Arcade Fire, Two Door Cinema Club e Kings of Leon. Aliás, esqueci de comentar antes, mas um ponto fortemente positivo a respeito de Dublin é a questão dos shows. Aqui temos inúmeras oportunidades para presenciar as melhores bandas do momento. Muito provavelmente 2010 será o ano em que eu mais terei ido em shows na minha vida. Bom, nunca se sabe, né? Mas é o que tudo indica...

Para o final de ano, já estamos com tudo reservado para passar o Reveillon em Londres, o que também será um momento inesquecível. Eu amei a semana que passamos na Terra da Rainha em setembro e fico muito animado ao pensar que poderei aproveitar mais alguns dias por lá. E durante o ano novo ainda por cima! Demais!

Durante os dois primeiros meses de 2011, vou me concentrar em terminar meu curso de inglês e curtir meus últimos momentos na Irlanda, pois em março irei para Berlim. Decidi mudar meus planos iniciais e ir estudar alemão em um curso intensivo na capital germânica por três meses. Essa ideia surgiu após visitar o país em outubro e ter gostado muito do que vi. Somou-se a isso o fato de que tenho um forte interesse pela língua alemã e também o apoio dos meus pais, para que assim eu pudesse concretizar mais esse sonho. Acredito que será mais uma vivência impagável e creio que Berlim tem muito mais a minha cara do que Dublin. Vamos ver. Vamos viver!

Finalmente, em junho voltarei para Dublin por alguns dias para dar um adeus para os amigos que aqui ficam e, em seguida, se nada mais sair dos seus trilhos, eu viajarei de volta para o Brasil.


E pro futuro a longo prazo?

Sinceramente? Não sei. Não faço a mínima ideia... São tantas coisas que podem acontecer que é sempre bom deixar uma página em branco para poder escrever quando a vontade e a necessidade aparecem."


Dublin,  29 e 30 de novembro de 2010



segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Essas Coisas

1

Essa ilusão
Essa paixão
Essa certeza
Essa saudade
.
Essa surpresa
Essa queda

2

Essa tentativa
Essa esperança
Essa força
Essa luta
.
Essa inércia
Essa dor

3

Essa falta
Essa dúvida
Essa ausencia
Essa amargura
.
Essa realidade
Essa desilusão

4

Essa dura certeza...
...
...que faz com que eu fique mudo diante de tanta necessidade de falar. Que faz com que minhas esperanças percam suas cores e fiquem desbotadas em frações de segundos. Que faz o gelo da neve prevalecer sobre sua maciez. Que faz com que eu tenha que repensar e recomeçar sem ao menos lembrar do ponto de partida.
Porque nesse caso 1 é pouco e 2 é ruim. E 3 aí é demais.

5

Ainda tem muita coisa e isso me deixa feliz. Um bolo quase já se foi. Mas ainda tem um inteirinho esperando por mim. E talvez nesse tenha uma cereja bem grande, bem doce e suculenta. Só não posso esquecer de degustá-la com calma, pois depois ainda tem a parte misteriosa porém poderosamente revigorante e duradoura.
Ah, essas festas...

domingo, 28 de novembro de 2010

Delfin is Different

Grande parte da minha vida aqui em Dublin é preenchida pelo meu curso de inglês, então nada mais justo do que falar um pouco sobre a nosssa escola, a Delfin. Para começar, Delfin não é uma palavra em inglês, mas sim do vocabulário espanhol. Significa golfinho (meigo, não?!). Bom, talvez essa preferencia do diretor pela língua espanhola seja a responsável pelo incrível número de alunos vindos daquele país. Isso pode ser visto como um ponto negativo, pois - como eu já disse noutra oportunidade - o sotaque deles é, no mínimo, irritante. Porém, creio que se a maioria dos alunos fosse formada por outros brasileiros - como ocorre em diversas escolas de inglês aqui -, daí sim eu iria ficar decepcionado. Viajar 16 horas de avião para estudar numa escola lotada de pessoas do mesmo país? Não soa ser uma experiência muito emocionante... Portanto, "Viva España!"

Sobre a aula em si eu não tenho nada a reclamar. Apesar de já ter vindo para cá com uma boa bagagem e experiência da língua, toda semana eu aprendo muita coisa nova, especialmente em termos de vocabulário. Claro que algumas das novas palavras são um tanto quanto inúteis e provavelmente eu nunca vou usá-las e com o tempo serão apagadas da minha memória pra dar espaço pra coisas mais proveitosas. É o caso de Chiropractor, que traduzindo seria o nosso famoso "quiropraxista". Bom, com certeza a culpa é minha e eu sou muito alienado, mas eu não sabia da existência dessa palavra/profissão até semana passada. E, mais importante, não sabia que inclusive a Unisinos possui um curso de Quiropraxia (informações obtidas com o Vico)! Agora estou muito curioso pra conhecer um quiropraxista pessoalmente...  Enfim, esse exemplo também demonstra o quão frustante é quando a pessoa não sabe o significado da palavra em inglês e pede ajuda pro dicionário. Só que ao olhar a tradução do dicionário ela também não compreende o termo em português! É um excelente modo de conhecer a frustração um pouco mais de perto.

Agora o que realmente faz da Delfin diferente não são as boas aulas, boa estrutura, colegas do mundo inteiro, etc. O que eu acho mais legal são os funcionários, o diretor e as atividades extra-classes. Não raro são realizadas festas no próprio prédio da escola, com a presença de todos alunos e de todo staff. Todo mundo alegremente alterado e feliz. O diretor principalmente; geralmente ele merece o troféu etílico da noite. Essa relação de amizade entre todos é que faz da Delfin diferente, sem nenhum rastro de autoridade ou algo do tipo (meigo de novo, não?!).

O ápice da "legalzice" da Delfin foi durante essas duas últimas semanas, quando os professores começaram a distribuir "Delfin Dollars" para quem tivesse um bom rendimetno nas aulas. Essas estalecas poderiam ser trocadas por cerveja na última festa da escola que ocorreu em um pub! É um sistema revolucionário e digno de um estudo aprofundado. Creio que a adoção de tal medida por todas as instituições de ensino iria contribuir para um aprendizado de maior qualidade por parte do aluno. Estudaríamos por prazer! Não é lindo?! Não bastasse essa caridade do diretor, no dia da festa ele deve ter gasto uns bons 500 euros apenas por pagar diversas cevas pra todo mundo que quisesse e depois ele ainda foi pra outra festa com a galera. Ah, esqueci de mencionar o nome dele. É Gareth o nome da figura. Grande exemplo de pessoa. Admiro.

---

Esse foi um breve resumo sobre como é a nossa escola de inglês aqui em Dublin. Para maiores informações vocês podem acessar a entrevista que o Cesar e o Vicente fizeram para um blog. Porém, tenham cuidado na leitura. Interpretações equivocadas já renderam discussões internacionais. Segue o link: http://www.vidanairlanda.com/2010/10/estudar-na-irlanda-delfin-english-school.html







segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O Poder de uma Boa Câmera

Temos que cuidar com o que vemos. Às vezes uma boa produção faz com que coisas horríveis melhorem bastante o seu visual. Se eu não tivesse escrito o texto abaixo, agora eu poderia perfeitamente mentir para vocês, dizendo que tudo foi maravilhoso e ninguém iria duvidar.

Segue o vídeo da campanha Scrooges da Sony para este Natal em Dublin:




Achei bem legal o resultado.
Deu até vontade de sofrer mais uma vez!
Interessante...

domingo, 14 de novembro de 2010

Scrooge - Apenas um relato para futura leitura

Dormir a 1h30 e acordar às 4h30 de uma segunda. Madrugada escura, gelada e úmida, pra variar. Eu, Cesar, Vicente e Paluza caminhamos por uma Dublin obviamente muda. Na O`Connell pegamos um táxi até o Hampton hotel. No caminho, o Sr. Taxista puxou o clássico assunto que sempre é puxado com brasileiros - "e o que aconteceu com a seleção de futebol de vocês, hein?". Na verdade, com o fim da Copa fazia tempo que alguém não tocava nesse tema, mas ele sempre surge de tempos em tempos. Afinal, no Brasil só existe futebol, carnaval, praia e macacos (esse último conceito revelado pela nossa simpática vizinha polonesa durante a festa de aniver do Cesar). Como  sobre carnaval o pessoal não entende bem, praia é algo distante demais para eles e macacos não estão contidos no caderninho de possíveis assuntos dos taxistas, sobrou o futebol. E o tempo.

Chegamos no hotel animados, pois nos disseram que teríamos um café da manhã. E realmente tinha! Tinha uma térmica com bastante café passado... E só. Bom, eles disseram que teria café e cumpriram, que legal. Após tomarmos o nosso delicioso café da manhã, começamos a vestir a nossa fantasia. Uma fantasia muito bem elaborada e de extrema complexidade - praticamente um lençol branco com mangas e algo branco  - que no caso seriam as meias do nosso personagem - pra cobrir os tênis  A fantasia era completada por um gorro branco com uma espécie de mullets - também branco - que tínhamos que grampear atrás do tal gorro. Depois passamos pra sessão de maquiagem, na qual fomos submetidos a um tratamento intensivo de tinta branca (óbvio) com alguns detalhes em outras cores. E pra finalizar, pra deixar tudo perfeito, tinha a barba  de coooooor... . . . branca. Igual à famosa barba do Papai Noel. Aí é que começa o problema.  O nosso personagem não era o Papai Noel, e sim o Scrooge.

O Scrooge é o personagem principal do livro "A Christmas Carol", escrito em 1843 por Charles Dickens. Na história, Scrooge é um homem frio, duro e de mau humor que não gosta de Natal, assim como o Grinch. Só pensa no seu trabalho e em ganhar dinheiro e também não gosta de pobres. Ao longo da história - a qual só li o início pois o importante era saber as características do Scrooge - várias coisas acontecem e no fim o final é feliz e traz à tona o famoso "espírito natalino", pois, não se esqueçam, a história é sobre o Natal. Há também inúmeros filmes sobre a história, sendo que o último foi lançado em forma de animação pela Disney, com Jim Carrey dublando nosso querido amigo rabugento.

Depois desse parágrafo explicativo, corta a cena e voltemos pro Hampton Hotel. Como vocês devem ter percebido, nosso figurino era algo bastante exótico. Além de nós 4, havia mais 36 pessoas  (90% formado por brasileiros falidos em terras irlandesas) com a mesma fantasia. Seríamos divididos em grupos de 10 e sairíamos pelas ruas de Dublin com um jornal na mão que promovia uma promoção da Sony. Porém teríamos que interpretar o personagem também, então deveríamos falar coisas como "Bah, besteira!", "Eu odeio o Natal!", "Abaixo ao Natal, blabla" e andar com um ar de revoltado. "Então, animados e confiantes, viramos os Scrooges e fizemos muito sucesso na cidade!!!"

Rebubinando a fita. Algo não está batendo. A nossa fantasia era péssima, Parecia-se com tudo, menos com o Scrooge. Instruções adequadas não nos foram concedidas - não sabíamos como agir em diversas situações e nem o que falar. Estas frase anti-natal a gente pegou por conta própria lendo o livro ou vendo vídeos. O líder do nosso grupo era mais perdido do que a gente, era comum ele não saber pra onde ir. O jornal que a gente segurava pecava pela falta de destaque à promoção. Não havia nada que identificasse a marca Sony a não ser um "Sony" perdido entre outras palavras na machete do jornal fake. Simplesmente jogaram a gente no meio da rua com uma roupa e maquiagem que assustava pela feiura e disseram "façam o que tem que ser feito! uhuul!". Uhul.

Agora sim. Vamos de novo... "Então, ainda um pouco animados e sem confiança alguma, viramos algo que não era o Scrooge e fizemos sucesso pela cidade. Por motivo de piada, claro.". Era evidante que não daria certo.

Pra começar, apenas 15% das pessoas reconheciam quem a gente era. O que a gente mais ouvia era:
- "Quem são vocês?"
- "São Papais Noeis?"
- "Oi Papel Noeeel!" - por crianças pequenas
- "Buáááá!" - por crianças pequenas
- "Vocês são elfos ou algo do tipo?" - Nerds
- "Dumbledore!!!" - fãs de Harry Potter

E quando a gente revelava nossa identidade a resposta era uma cara de espanto. Dava pra ler na mente da pessoa "coitados...". Após o problema identificação, surgia o problema propósito. Por que a gente tava fazendo aquilo? Qual era o motivo? Principais enganos:
- Achei que vocês tavam fazendo um protesto contra o Natal
- Achei que fosse um daqueles negócios de combinar pela internet de fazer algo maluco
- Pensei que era pra arrecadar dinheiro ou algo do tipo
- Ah, mas então vocês não são retardados?!

Assim que, finalmente, explicávamos que era uma promoção da Sony, as pessoas respondiam "que legal, conte-me mais". Porém a gente não sabia mais, pois o mais não nos foi explicado. Não tínhamos noção de como funcionava a promoção, então pedíamos que perguntassem ao nosso líder de grupo, um grande sabichão irlandês. Sabichão... Saaaa.bichão. Rá!

Enfim, foram 8 horas de muita caminhada. Em alguns momentos eu ficava louco - pois louco sou, - e conseguia encarnar o personagem de maneira bem convincente. Saía gritando pela Henry Street que odiava o natal, fingia brigar com um amigo imaginário no orelhão, mantinha o contato visual com as pessoas, etc. Mas aos poucos fui cansando disso tudo, pois percebi que ninguém tava nem aí pra nada. Então mudei de personagem. Inspirei-me no sol que temos agora por essas terras: tímido, breve e escondido.

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Como deu pra perceber, o texto foi convenientemente finalizado, pois estava achando um saco escreve-lo.
Entretanto, vale a pena ressaltar que o Cesar foi vítima de duas agressões: um guri e depois uma guria Irish deram um soco no jornal que ele estava segurando. Porém o jornal estava na frente da cara dele. Um bom jeito de terminar seus 19 aninhos. Mas não tão bom como começar seus 20 #casodobox


X

Perdido. Confuso. Onde está o "X" vermelho do meu mapa? De vez em quando ele pisca, mas agora parece que a bateria acabou. É interessante como coisas que a gente acredita que são duras como rochas de repente se derretem formando um lago verde-musgo, denso e pegajoso. E isso te torna mais pesado, mais lento.

Explosões acontecem. Brilhos perdidos na escuridão calada. Fazem com que a nossa atenção se volte para o momento, porém o momento não é completo sem as lembranças.
Seria uma relação de dependencia enganosa. Ou de enganosa dependencia?

domingo, 7 de novembro de 2010

Lembranças - Dedicatória ao Chicken Fillet Roll

Às vezes as pessoas me perguntam qual é a comida típica da Irlanda. Começo a pensar e não chego à conclusão alguma. Poderia dizer que é peixe e batata, o famoso fish n` chips, mas esse tem a fama de ser inglês, então não vale. Mas então, qual seria o típico prato irlandês??? Seria aquele que sentirei falta quando eu voltar pro Brasil. Seria aquele que eu vou ficar com desejo de comer mas não vou encontrar em lugar algum. Seria aquele que lembrarei em sonhos e quando eu acordar estarei triste por não encontrá-lo.

Tanto tempo pensando, tentando encontrar a resposta... E nunca percebi que ela estava ao meu lado. Muito mais simples do que parecia ou do que eu imaginava. Assim como muitas outras coisas na vida.

Apresento o grandioso Chicken Fillet Roll, ou enrolado de filé de galinha.



O Chicken Fillet Roll é uma das poucas idéias boas dos irlandeses. Ele é bastante simples, tem em todas as esquinas, mas varia bastante de lugar para lugar. Nada mais é do que um pão baguete preenchido com maionese ou margarina, duas saladas de sua opção (alface e tomate é o clássico) e, é claro, a galinha empanada. Mas não para por aí, pois é possível escolher entre galinha normal ou apimentada (falando nisso, levou um tempo pra descobrir que eles chamam a galinha normal de plain chicken. Então, enquanto eu não agregava essa palavra ao meu vocabulário, eu me virava pedindo uma galinha "not spicy". Puxa, esse foi um parênteses realmente grande...). Tudo isso por sabe quanto? Apenas 1,99 euros. Em alguns lugares custa 2,99 com latinha de Coca inclusa. É um preço bem barato considerando que o Big Mac com batata e refri médio custa quase 6 euros.

Essa famosa especiaria pode ser encontrada em várias redes de mercados, como o Centra ou o Spar, que possuem uma área destinada para a preparação da mesma e de outros lanches. Algumas diferenças entre os dois: no Spar o queijo é considerado como sendo uma salada, então podemos escolhe-lo como parte dos 2 recheios possíveis sem pagar mais por isso. No Centra eles cobram 60 cents. No Spar eles aquecem o pão também de graça e com sorriso no rosto, enquanto no Centra ou eles não aquecem, ou eles cobram por isso, ou eles fazem de má vontade. Então vocês devem estar pensando, "ah, então não tem motivo para comer o Chicken Fillet Roll do Centra" (a partir de agora vou chamar o Chicken Fillet Roll de CFR, ok?). 

É aí que vocês se enganam... Na vida nem sempre o mais racional leva vantagem, muitas vezes somos guiados por emoções, às vezes tão intensas que nos fazem ficar cegos diante de uma verdade bastante sólida. Relutamos para aceitar ou acreditar.

Foi no Centra que descobrimos o CFR. Ele que nos abriu a porta para um novo mundo. Não entedíamos a sistemática da coisa (esse negócio de opcões deixa a gente confuso), mas o preço parecia atrativo. Arriscamos. E petiscamos. Foi uma descoberta maravilhosa, algo que já salvou nossas vidas inúmeras vezes.  Tá com pressa pra comer? CFR. Não quer cozinhar? CFR. Tá apenas com desejo de comer CFR? CFR.

Nós moramos praticamente em cima de um Centra 24h (apesar de que o CFR só é vendido até as 17h), então podemos dizer que o próprio Centra já salvou nossas vidas inúmeras vezes. Outro ponto a favor é que no Temple Bar, região em que se concentra a maioria dos pubs e festas da cidade, existe um Centra 24h que vende CFR 24h! E é de lá que eu aguardo a minha lembrança mais intensa e prazerosa...

...Estava eu saindo de uma festa, sozinho numa madrugada ainda não tão fria aqui em Dublin. Eu não tinha jantado, pois quando eu havia saído de casa ainda era cedo - já que as festas começam e terminam cedo -, então eu tava "varado de fome", como diria Maria do Carmo em Senhora do Destino (sério, eu odiava quando ela falava isso com aquele sotaque forçado). Então naquele momento eu esbanjei: além da maionese, alface e tomate, eu pedi pra colocar queijo e bacon. Não satisfeito eu pedi pra aquecer. Eu sei que no total deu uns 4 euros de tanto extra que eu coloquei. Mas valeu a pena. Muito a pena. Era como se vários pedaços meus estivessem espalhados pelo chão e de repente alguém os juntasse e colasse tão perfeitamente que ninguém nunca notaria o ocorrido. Eu tava morrendo. E ressuscitei. Ressuscitei com aquele queijinho derretido combinando perfeitamente com a galinha apimentada. Com aquele gostinho de fatias de bacon bem suculentas. Completado com um pão que de tão macio se desmanchava na boca... Foi a perfeição, o ápice dos Chicken Fillet Roll (agora ele mereceu ser citado por completo). Melhor que qualquer Xis no Cavanhas na larica ou dogão da tia pós festa.

Por outro lado, em uma noite de terça, voltando do teatro, resolvi comer o CFR do Spar pois no Centra eu teria que esperar 5 minutos pois estavam preparando a galinha. Nessas horas é que os ditados populares são de grande valia e te fazem sentir idiota por não seguí-los - "apressado come cru". Foi horrível, deveriam processar quem me vendeu aquilo. A galinha tava totalmente velha e dura. Foi um desgosto pra mim. Logo eu, que tinha uma imagem de perfeição do CFR formada na minha cabeça, fui obrigado a engolir aquilo a seco ainda! Quase me recusei a comer em respeito aos outros CFR, mas a fome era grande e eu não cogitava a hipótese de chegar em casa e cozinhar ou de ter que desembolsar mais alguns euros. Foi amargo. E duro. Mas o fiz.

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Muitos falam que o que guardamos de uma experiência são lembranças e não os momentos em si. Se alguém perguntar como foi uma viagem que fizemos, nós iremos responder baseado apenas em lembranças e não no que realmente aconteceu ou no que realmente sentimos na época - pois o que vivemos é agora e único. E geralmente lembranças extraordinárias acabam por ofuscar aquelas menos intensas, mas que são também de grande valia para o conjunto.

Talvez seja verdade. Se alguém me perguntar como é um CFR, eu direi que é perfeito, baseado na minha experiência maravilhosa naquela madrugada, mesmo que tenham ocorrido outra não tão boas assim... Isso não significa que, de fato, seja perfeito sempre e para todos. Tudo varia, tudo depende. Só arriscando e vivendo para saber. Não podemos nos basear pelas lembranças dos outros,  pois são apenas... lembranças... Temos que nós mesmos sentir e apalpar o único e o novo.

Talvez também seja por isso que mesmo diante de tantas vantagens nitidamente visíveis eu ainda prefira o Chicken Fillet Roll do Centra. Minhas lembranças afetam minhas emoções que por sua vez acinzetam minha percepção. Porém, para não ser injusto com o Spar, eu continuo dando chance para ele, pois quem sabe algum dia ele me conceda uma experiencia e uma lembrança tão boa quanto a do Centra. E pra provar isso, segue uma foto de um delicioso Chicken Fillet Roll do Spar aberto. Nesse dia eu pedi com queijo e tomate (acredite, tem tomate embaixo disso tudo) e mandei aquecer. Utilizei de todos os diferenciais que o Spar oferece sem cobrar nada por isso... Hmmm, uma delícia!

 
PS.: Não deveria ter escrito isso a essa hora da noite. Não, eu não vou enfrentar 2km de chuva, 5 graus e vento de 40km/h por um mísero enrolado de filé de galinha. Não vou!!!!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ligando os Pontos

Começou como uma aventu-ra.
pidamente o gosto foi crescen-do.
minando o seu ser.
teza de que seria -bom.
bardeou o espírito por comple-to.
mado por uma paixão escaldan-te.
meu ao aceitar o que estava ób-vio.
que não tinha outra op-ção.
coisas que aconte-cem.
que ninguém tenha contro-le.
vantou da cama de maneira decidi-da.
ria seu tudo por aquela linda paisa-gem.
tilmente caminhou pela cida-de.
"ssa vez não pas-sa."
iu de vez do seu abafado casu-lo.
tou seu coração de vi-da
diva da infinita existên-cia
cabou em a-mor
reu de dor.
Dormiu sem fim.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Apunhalado pelas Costas (ou como perdi o meu amor)

Hoje vou contar como sofri minha primeira desilusão amorosa aqui em Dublin. Na verdade, nós 3 sofremos. E muito.

Era uma noite amena de quase verão, uma noite de alegria mas também de despedidas. Despedidas dos nossos melhores amigos espanhóis. Houve uma grande festa na casa do Oscar, mais de 100 pessoas em um apartamento em que não cabe nem 40. Teve gente transbordando pela escada do prédio. Polícia também teve, claro. Reza a lenda que houve 10 denúncias para a Garda (polícia irlandesa), todas requisitando o fim da nossa celebração. E assim foi feita a vontade de deus, ou seja, do povo. Fim de festa, todo mundo pra fora. Mas nesse momento ninguem mais se importava com nada mesmo. Tudo é lindo, a vida é bela e somos apenas emoção. Razão? Descartamos Descartes da nossa dimensão.

Madrugada fria de um quase inverno, grande parte do grupo ainda junto dando os últimos abraços e as últimas calorosas declarações de amizade. Acompanhamos o Oscar até o táxi na O`Connell Street e mais um abraço foi dado. "Boa viagem, Oscar, nos aguarde para o Natal em Madrid.". Após o aceno final, ainda desolados, avistamos, do outro lado da rua, aquele que mudaria a nossa vida por alguns meses. Sozinho, abandonado, triste, melancólico. Estava lá, estático, o nosso grande futuro amor: um carrinho de supermercado. Repare que este é um item raro na terra da Guinness, pois para utilizar tal meio de transporte dentro do supermercado a pessoa precisa colocar uma moeda e ela só consegue a moeda de volta caso devolva o carrinho no seu devido lugar. Uma espécie de "depósito de segurança". Por mais que seja alguns centavos, quando dinheiro é envolvido as pessoas pensam 10 vezes mais em seus atos. Já quando Euros são envolvidos, as pessoas pensam 25 vezes mais.

Foi amor à primeira vista. Minhas pernas tremeram, faltou-me o ar, meu coração explodiu. Corri para o meu - para o nosso! - carrinho como alguém que corre para acessar suas mídias sociais após um longo período de 2 horas fora de casa. Pulei dentro dele, pois senti que exatamente assim ele queria que eu fizesse. E eu o fiz. Nisso os guris se aproximaram e, com os olhos brilhando, começaram a me empurrar, começaram a me girar. Gira, gira, gira, girassol... Vento na cara, frescor de amor. Liberta emoção, tu é o rei do mundo... Êxtase puro, um feito para o outro. Laika e combo.

Passado o primeiro momento de entorpecimento passional, seguimos então com a Jema (leia-se "Rema" pra ficar menos esquisito) para acompanhá-la até sua casa - sem desgrudar do carrinho, óbvio. Falando nisso, a Jema foi uma das grandes personagens da nossa viagem. Espanhola, casada, mais velha que nós mas com um coração muito especial. E eu estou sendo sincero. Possuia um inglês quase fluente, utilizando gírias locais que nos impressionava pela sua coerencia, tais como "a very kiss for guys" quando queria se referir a "um grande beijo para os meninos".

Foram algumas centenas de metros coloridos que percorremos. Trocávamos fervorosamene entre nós 3 a vez do piloto do carrinho. Todos queriam sentir um pouquinho daquele prazer infinito. A Jema observou o nosso encanto e comentou com seu amigo Aitor - em off - uma frase marcante, que está guardada na memória do Vico até hoje e que ficará para sempre: "Olha para esses meninos, Aitor! São seres humanos sinceros, puros. Eles não se importam com dinheiro, não se importam com status. São apenas felizes" (tradução livre do original "See for boys, Aitor! Human are pure, have dont worry because money but not status so. They like just happy!"). Mal sabia ela que o que ela estava vendo não era apenas uma demonstração de felicidade, mas de amor. Dos fortes.

A nossa primeira noite foi inesquecível, como toda primeira noite deve ser. Mas o melhor estava por vir: dias, semanas, talvez meses de deleite. Cuidávamos do nosso carrinho como um jovem cuida de sua carteira na madrugada Viamonense. Era o nosso bem mais precioso. Utilizávamos como sofá, às vezes como cama. Também como mesa e varal para secar roupar. Porta-mochila, chapelaria... Mil e uma utilidades. Tinhamos planos para o futuro também. Não víamos a hora de levá-lo para passear nas ruas de Dublin, para que ele pudesse admirar o que nunca tinha enxergado. Assim ele poderia andar na chuva, no frio, na neve... E quem sabe até levaríamos ele para fazer o que ele mais gostava: carregar sacolas de compras...

 

...Infelizmente, o destino nos pregou uma peça, e essa foi das grandes. Foi quando o lobo saiu da sua fantasia feita de pele de cordeiro e mostrou suas garras asquerosas.

Estávamos na parte final da nossa Eurotrip. Havíamos deixado a nossa outra metade da laranja em casa, pois dizia ela que tinha medo de aviões. Bobinha... Como não nos sentíamos confortáveis em deixá-la sozinha em casa por dias e mais dias, incubimos nosso amigo Paluza de verificar seguidamente se estava tudo bem com  a nossa amada. Numa dessas visitas, o Paluza encontrou um bilhete em cima da nossa mesa. Era um bilhete do PJ, o nosso Landlord, o proprietário do nosso imóvel alugado. O Paluza nos ligou e falou que o bilhete dizia algo sobre o carrinho, mas ele não havia conseguido traduzir. O PJ sempre foi um senhor muito gente boa, muito simpático e divertido (aliás, talvez ele mereça um texto só para ele aqui). Seu bigodinho transmite segurança e ele sempre foi muito ágil quando precisávamos de uma ajuda. Portanto, não demos muita bola para o tal bilhete, apenas pensamos em 3 possibilidades sobre o que estaria escrito:

1 - "Eaí meus inquilinos, como vocês estão?! Curtindo essa Eurotrip?! Puxa, vim pegar o dinheiro do aluguel e percebi que agora vocês tem um carrinho de supermercado no apartamento. Que demais, adorei a idéia!!"

2 - "Fala meus queridos brasileiros, tudo certo?! Nossa, um carrinho de supermercado!! Só vocês mesmo, hein! Vê se eu posso, hahahaha..."

3 - "Um carrinho de supermercado?! Eu sempre quis ter um, vou aproveitar que vocês não estão aqui para roubá-lo!! hehehehe, brincadeirinha!"

Então pegamos a conexão Paris-Dublin pela Ryanair e chegamos na "terra da cerveja", como diria uma amiga nossa e conhecida de muitos. Abrimos a porta, entramos no apê, tudo normal. "Puxa, o bilhete do PJ, tinha até esquecido! Vamos ver..."

Pane. Turbulência. Defeito. Erro fatal. Problema. Terremoto. Tsunami. Congelado. Frio. Medo. Amargura. Decepção. Solidão...

"Garotos, o que é isso? Um carrinho de supermercado??? Vamos nos livrar disso, por favor. Ass.: PJ"

Livrar
Mercado
Super
Isso
Livrar
Carrinho
...

Essas palavras ainda são lançadas em minha memória como se fossem agulhas.
Um carrinho de supermercado? Nos livrar DISSO? Nunca!! Quem ele pensa que é???

Nisso olhamos para o canto da sala e estava ali nosso carrinho, triste porém firme. Todo metalizado (o amor cura até eventuais ferrugens). Lindo como sempre. Ele disse que a culpa não era nossa, era dele. Ele agradeceu por tudo, disse que foi muito feliz, mas que passou. Ele disse que queria a nossa felicidade e queria o melhor pra nós. Ele agradeceu novamente. Ele disse que acabou.

No fundo não queríamos acreditar no que estava acontecendo, sabíamos que ele estava fazendo isso para salvar as nossas vidas, mas ele não cedeu. Foi bravo. Seguimos com ele até a Bolton Street. Atravessamos a Bolton Street. Avistamos um beco e uma marquise. Era ali, tinha que ser ali, protegido da chuva e dos nackers. Momentos e lembranças vieram à tona. Olhos marejados, desespero tomando conta. POR QUÊ?! Noite cheia de vida inútil...

Não tivemos coragem de olhar pra trás. Corremos de volta para o nosso apartamento. Nosso não, apartamento do PJ. Aquele ingrato que se aproveitoiu da nossa distancia para nos apunhalar pelas costas. Ah, mas um dia a vingança virá...

Ao menos as lembranças ficam. Carrinho, aonde quer que você esteja, saiba que a distancia não irá acabar com o meu sentimento por ti. Sinto saudades todos os dias e lembro-me de como fomos felizes, mesmo que por apenas um mês de convivencia próxima. Não sei se vou te encontrar novamente no futuro (é tudo o que eu sonho todos os dias), mas sei que me arrependo de não ter aproveitado mais o tempo que eu tinha contigo. Espero que tu esteja muito feliz e espero que eu tenha te feito feliz, pois tu é especial, tu é único e tu merece.

Beijos




terça-feira, 2 de novembro de 2010

Trocadilhos

Tudo o que ele queria ele não sabia. A recíproca era verdadeira. Ele queria tudo. Não sabia nada. Suportar tal ciclo não foi simples. Tudo porque ele queria ser tudo porque ele queria ser tudo...

Escuro. Ele não desistiu, pois é tudo uma voltinha sob o suave som do sereno. E aquele cheiro distante fazia com que acreditasse. Sereno mundo envolto de sereno mundo envolto de sereno...

Dia. Tendo tudo ele não achou nada nem ninguém pra sentir consigo. Sinta! Sente! Sente comigo e me diga o que tu sente comigo e me diga o que tu sente...

Perigo. Do meu lado – compartilha o nada. Nada comigo como se nunca fosse te afogar em nada comigo como se nunca fosse te afogar em nada...

Real. Ele não sabia o que tinha. Tinha sim medo do escuro. E quando fecharam as portas e apagaram as luzes ele sentiu... serenamente... E soube. Só sabia que não podia ficar só sabia que não podia ficar só...

Então

Então eu cheguei. Assustado, curioso, ansioso. Temendo. Túnel mórbido com pedras exuberantes. Tremendo. Tudo acontecendo tão rápido, uma mistura, um desespero. Não dá tempo de assimilar, o brilho é muito intenso. Só consigo deixar a energia entrar e nada mais. Eu to aqui! Meu lugar é aqui! Explosão de felicidade, grito de liberdade!!!

Então eu fiquei. Calmo, estranho, pensativo, inquieto. Tremi. Corredor amplo com paredes de gelo. Temi. Tudo está indo tão devagar, um monólogo, um silêncio. Assimilo tudo, mas de maneira opaca. Nem o gelo consegue ser derretido mais... Eu to aqui... Meu lugar é aqui... Explosão. Grito.

Então eu continuei.

domingo, 31 de outubro de 2010

Cores e Sabores

E temos uma presidente. Concordo com a escolha, pois – entre outros motivos - ainda não era hora de mudar e agora nosso estado vai estar alinhado com o país. Entretanto, creio que 90% dos meus leitores discordam da minha opinião e acho que todo mundo já está saturado do assunto Eleições. Então vou mudar de rumo antes que meus já poucos passageiros decidam descer do ônibus.

Ontem era dia de Halloween. Aos que não sabem (assim como eu não sabia), o Halloween é um evento que surgiu aqui na Irlanda, apesar de ter adquirido maior fama através dos EUA. Foi interessante observar que as pessoas realmente levam a sério esse negócio de fantasia. Foi engraçado ficar parado na frente do Tesco (o supermercado que salva as nossas vidas por aqui) e ver inúmeros zumbis, vampiros, gente "sangrando", cara pálida, olho roxo passando pela Parnell Street.

Obviamente, assim como no Brasil, Halloween não é Halloween sem festa à fantasia. É aquela clássica semana com a pergunta mais clássica ainda – “vai de que?”. Eu, ignavo que sou (procurei uma palavra mais legal para me descrever), não sou muito adepto a festas à fantasia. É muito trabalhoso pensar em algo e depois correr atrás pra que esse algo fique realmente bom. Prefiro ficar nos acessórios mesmo. Então eu de última hora comprei uma máscara infantil de diabo e coloquei um óculos mais, digamos, diferente. Pelo menos assim eu não me senti tão “fora do grupinho”. Mas também tive que exercitar minha criatividade ao tentar explicar a minha escolha para outras pessoas.

A festa foi bem divertida. Aliás, não teria como não ser divertida, pois ela foi dentro da nossa escola junto com nossos colegas, diretor, secretárias e professores - todos fantasiados e devidamente alcoolicamente alterados. Essa interação é o que eu acho o mais legal da Delfin, pois como já diria o slogan “Delfin is different”. Pra fechar a noite bem, ainda houve tempo pra tradicional filosofia de bêbado sem sentido algum com o Cesar antes de dormir. Nessas horas que eu penso que seria legal se tivesse uma câmera nos filmando 24 horas!

O domingo foi um típico domingo de qualquer lugar do mundo. Ressaca, cansaço e preguiça. Ainda mais que a sexta-feira também foi um dia um tanto quanto movimentado devido ao show da Lady Gaga em que fui junto com o Paluza. O show e a sua estrutura são incríveis. Porém o público irlandes novamente não foi dos mais animados. E teve um outro problema: exagerei demais na concentração e boa parte do espetáculo resume-se a alguns flashes na minha cabeça. Voltei pra casa já indignado com o meu próprio exagero e expressei minha revolta pros guris com uma atuação etilicamente magnífica (de novo, cade a câmera 24h?!). Depois fui afogar as mágoas com algumas vítimas que eu selecionava aleatoriamente no MSN e Facebook. O legal foi que falei com gente que eu tinha adicionado mas nunca tinha conversado antes na vida! Algo do tipo, "Oláá X, como vai você?! Eu acabei de voltar do show da Lady Gaga, tava muito bom! Espera aí, quem é você mesmo??". Tudo isso desconsiderando os incontáveis erros de escrita como "tomara que eun soncsga", que a Júlia hábil e prontamente conseguiu traduzir pra "tomara que eu consiga".

Falando nisso, alguém poderia inventar um bafômetro pra computadores que impedisse a utilização dos mesmos caso detectado o menor sinal de embriaguez, pois a combinação “PC + Álcool” é tão perigosa quanto a famosa “Álcool + Carro”. O mais incrível é que na hora do ato a gente já percebe que está falando o que não deveria, mas mesmo assim continua pois “não vai dar nada”. Então a pessoa vai dormir e acorda várias vezes durante a noite, sendo que cada vez que ela acorda há menos álcool no seu sangue. Logo, conforme ela vai acordando, o “não vai dar nada” muda para:

1 – Talvez não dê em nada;
2 – Vai dar alguma coisa, mas não vai ser nada;
3 – É... Vai ser alguma coisa sim;
4 – Seu idiota;
5 – Ainda tenho esperança que tudo isso tenha sido um sonho e nada disso tenha acontecido.

Até que a pessoa acorda, confere pra ver se não era mesmo um sonho e descobre que tudo foi bem pior que ela imaginava... Felizmente eu já sou mestre em lidar com essas situações e elas praticamente já estão incorporadas ao meu ser.

O que eu não consigo superar é a minha dificuldade em lembrar de pessoas. Não apenas do nome delas, mas também da fisionomia. Essa semana descobri que uma guria de Viamão (sobre quem a Júlia e a Mel viviam falando) é minha vizinha aqui em Dublin! Falei com ela pela janela e perguntei se ela me conhecia. Ela respondeu com um “Claro” bem claro e perguntou, de uma maneira mais cinza, se eu não lembrava dela. Eu respondi de uma forma marrom que não. E de cores fomos pra gostos. Uma salgada explicação de quem ela era, um azedo tempo pra pensar e por fim um doce “Ahhh, sim, agora lembrei!”. Amarga mentira.

Talvez isso aconteça por falta de atenção minha, por esquecimento, por alguma doença ou transtorno... Sei lá! Só sei que isso me incomoda bastante, pois as pessoas devem pensar que eu sou um grande mal educado ao não cumprimentá-las na rua. Gente, eu juro, não é por mal, eu apenas não lembro! Eu amo todo mundo!!!

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1h da manhã aqui já, hora de dormir. Nesse momento estou eu no sofá, Cesar na mesa com o seu PC (por algum motivo ele ainda tá usando a tiara de diabo que achamos no chão da festa) e Vico deve estar dormindo no quarto. Ao fundo toca Bon Jovi. Amanhã já começa mais uma semana de aulas e de busca por emprego. Ah, também ajudarei no backstage das apresentações da peça do meu grupo de teatro durante essa semana. Algo, no mínimo, curioso. 

Bom, esse texto foi bem diferente dos que eu costumo escrever por aqui, mas espero que gostem mesmo assim.

Até mais.

sábado, 23 de outubro de 2010

Eu, Me, Ich, Yo

Por que será que antes da viagem o blog estava tão mais ativo? Que força existia antes que agora parece não existir mais? Será que é apenas preguiça ou tem algo menos superficial por trás disso tudo?

Esta atualização eu dedico a mim. Alguns minutos de sinceridade comigo mesmo.

Lendo alguns textos do início desse ano fica claro que havia algo que me incomodava muito. Talvez a rotina, talvez as pessoas, talvez a cultura, talvez o não saber pra onde ir. Um campo aberto coberto por nuvens carregadas  onde eu podia correr - mas sem chegar a lugar algum. Bom, pelo menos tinha um aeroporto logo ali. E era ele que me inspirava. “Ele que vai me salvar!”

Cinco meses já.  Talvez eu tenha pego o avião errado, mas pousei no mesmo lugar em que havia embarcado. Mesmo campo, mesmas nuvens. Porém agora não acho as flores que eu costumava admirar e que me faziam companhia. Saudades delas. E o aeroporto já não está mais tão dourado quanto antes; já não me inspira mais quanto antes. Deu uma enferrujada.

Ainda tenho esperança de correr pra direção certa. O rio deve estar logo ali, uma hora eu vou me deparar com ele. Tempo para achá-lo eu continuo tendo. E esperança? Também. Afinal, o cenário pode ser o mesmo, mas a peça nunca será. A cada apresentação é necessário improvisar, e a improvisação - o inesperado/diferente - é que nos traz experiência e aprendizado. Ela faz com que os nossos olhos se abram e enxerguem o mundo com lentes diferentes das lentes opacas que a maioria prefere utilizar.

É melhor aceitar e experimentar do que morrer com a dúvida. Ainda possuo esse pensamento e essa vontade. Ainda quero mais. Entretanto, também tenho a noção que tudo pode ser mais simples do que eu imagino. Quem sabe com as lentes mais transparentes eu consiga perceber o rio seguindo seu curso calmamente em um lugar bastante óbvio - entre as minhas belas flores.

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Bom, aqui tá tudo bem com a gente. No momento estamos escutando música, bebendo cerveja e tentando imaginar algum lugar legal pra sair nesse sábado. Achar emprego está realmente difícil – e juro que não é papo de preguiçoso que fica em casa dormindo e não procura, hahaha. Nessas horas penso como nos EUA era fácil. Fui pra lá no meio de uma crise gigante e em 15 dias achei um emprego sem ter experiência alguma. E no final da viagem ainda me procuraram pra oferecer emprego em um cinema onde eu tinha me candidatado alguns meses antes.

Agora o tempo aqui está realmente muito frio, o que nos faz ficar mais em casa. Nossos amigos antigos já voltaram em sua maioria para seus países – o que por outro lado pode ser bom, pois é uma oportunidade de fazer novas amizades. O que eu estou buscando agora é viver o mais próximo possível da realidade dos irlandeses. Na última terça, por exemplo, comecei uma oficina de teatro muito parecida com a do TEPA. Foi uma experiência muito interessante e divertida, continuarei no grupo com certeza.

E as expectativas pras próximas semanas não são das piores. Muitos shows junto com o Paluza (Lady Gaga, Foals, Gogol Bordello, Klaxons, Vampire Weekend, Arcade Fire...) , aniver do Cesar (20 aninhos, uhuuul), provável viagem de fim de ano e logo depois final das aulas de Inglês – que por sinal estão começaaaando a ficar repetitivas.

E eu também estou começando a ficar com raiva dos espanhois e seu sotaque horrível e irritante. Ok, talvez eu esteja um pouco ranzinza... Mas eles não conseguem nem pronunciar "Job" corretamente - isso no nível avançado! É ‘Djób’ e não ‘Ziób’!!!!

Hasta luego, un beso a todos!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Indigestão

Queria escrever que não sei se o tempo existe. Eu acho que não. Não sei, na verdade. E não to falando de horas, minutos e segundos. Isso eu já sei que não existe.
Queria escrever que muita coisa não existe, que a gente cria vários castelos brilhantes que são ditos como reais mas que no fundo são buracos gelados e cheios de vento.
Queria escrever que eu posso dizer que algo que me fez sentir bem foi ruim e divulgar essa "mentira" para milhões de pessoas e gerações. Assim a verdade seria a mentira. Inclusive eu daria outros exemplos sobre isso.
Queria citar George Orwell, dizendo que 2 + 2 = 5. Quem disse que 2 + 2 = 4? São tudo conceitos que nos são passados.
Queria colocar esta imagem...
... e depois dizer que moramos no hemisfério norte. E que se colocarmos numa prova que moramos no hemisfério norte, nós tiraremos zero. Apenas porque, sobre algo que não existe uma verdade, uma verdade foi inventada - e a ela temos que seguir.

Mas decidi apagar o pouco que já tinha escrito sobre isso, pois ficou tudo tão difícil. É como se eu tentasse comer pedra. Então é melhor deixar pra lá essas idéias. Ou esperar o momento da transformação do meu estômago em um triturador com lâminas bem rápidas e afiadas.


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PS.: Aahh, também queria escrever algo sobre o fato de hoje faltar exatamente um mês para a viagem. Mas acho que algumas pedras acabaram caindo em cima das borboletas que voavam dentro da minha barriga.


domingo, 16 de maio de 2010

Memorando

Obrigado a todos que votaram e apoiaram nossa dupla na campanha do post anterior.
Conseguimos cerca de 220 votos, ficando em segundo lugar, classificados para discotecar no laikaplayer.

Agora segue apenas um descritivo de ontem. É mais um texto para mim mesmo, para que minha memória não apague alguns detalhes interessantes. Não vou me preocupar em tentar descrever as emoções, pois seria inútil devido a quantidade e a intensidade...

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Sábado, 15/06, passei horas montando e escutando o setlist, que a princípio seria de 45min mas que se transformou em 1h, tentando achar uma combinação boa e uma ordem harmoniosa para as músicas (mas sem qualquer técnica, só no achismo mesmo).

Fui pra casa da Júlia às 22h e recebi meu presente e meu "uniforme" pra noite - uma camiseta linda e estilosa feita por ela.

Pegamos a Ana em sua casa e rumamos pro Laika.
Chegamos lá antes da festa começar e recebemos instruções básicas de como colocar o som. Infelizmente não era como eu pensava, não era tudo automático, os djs realmente teriam que fazer coisas. E isso resulta na possibilidade de cometer erros, o que aumentou nosso nervosismo. Também recebemos a informação de que seríamos a primeira dupla a tocar, a partir das 2h, o "horário nobre" da festa. Mais nervosismo... Bebidas com álcool não estavam descendo muito bem, tive que ficar só ná agua.

A hora chegou e colocamos nossa seleção pra tocar:

Muse – Supermassive Blackhole (03:29)
Phoenix – Lisztomania (04:08)
La Roux – Bulletproof (03:28)
Ting Tings – That`s not my name (03:17)
Noisettes – Don`t Upset the Rhythm (03:10)
Pink – So What (03:36)
Lady Gaga – Telephone (03:40)
Edward Maya – Stereolove (03:28)
Estelle – American Boy (05:04)
David Guetta – Sexy Bitch (04:03)
Florida – Right Round (03:25)
Kesha – Blah Blah Blah (02:52)
Spice Girls – Wannabe (02:53)
Beyonce - Single ladies (03:15)
Lady Gaga - Bad Romance (04:56)

A gente se divertiu muito lá em cima. Começamos meio perdidos mas aos poucos fomos recuperando a naturalidade. Percebíamos que a festa estava lotada e que o pessoal tava curtindo muito. Descemos de lá em êxtase e meio abobados, porém estávamos muito realizados e satisfeitos. E cansados também...

Alguns nomes pra não esquecer: julia, ana, cesar, amanda, styl (lembrar da fantasia), elisa, fiori, coelho, marco antonio, dalpiaz, paulinha, iolanda, karen, karla, mah, leo, pablo, joão, tito e pepe.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Horário Eleitoral Gratuito

É, caros leitores, nem a internet escapa do nosso querido horário eleitoral gratuito. Mas dessa vez a eleição é mais divertida.
Bom, vou dar um tempo para as reflexões do blog e pedir pra que vocês acessem o link:


Sim, eu e a Júlia estamos concorrendo pra discotecar no Laika nesse sabado!
Pra votar é fácil, basta mandar um e-mail pra laikaplayer@laikaclub.com.br com o nome da nossa dupla no assunto e o teu nome no texto. De quebra tu ainda ganha desconto pra entrar na festa sábado =) Fica assim então:

De: exemplo@gmail.com
Para: laikaplayer@laikaclub.com.br
Assunto: "Julia e Rodrigo" <---- VOTO
"Teu nome" <---- 
Nome para a lista de R$10

É isso aí, sempre tive curiosidade de experimentar a sensação de colocar um som pra tanta gente. Junto com a Julinha então será uma oportunidade perfeita! Agradeço a quem ajudar!

domingo, 2 de maio de 2010

Desculpa

É como se minha cabeça tivesse vazia, oca, morta. Parece que houve uma explosão e agora tá tudo irritantemente calmo, escuro, em silêncio. A sensação não me agrada, mas também não faço muito pra mudar, pois penso que não adiantaria. Na verdade é uma neblina. Bem densa. Neblina seca, mas conforme vai-se andando várias gotículas se acumulam ao redor da face e são imediatamente evaporadas devido a um vento forte formado unicamente de calor que vem com tudo em minha direção. E isso tudo causa um mal estar, eu quero sair daqui, eu quero enxergar. E isso tudo causa dúvida, eu quero a água, quero o fogo, quero nenhum amando todos. Causa medo – é pra sempre?! Claro que não. Escurece, vem a aflição - meu deus, passa logo! Continuo na neblina, alguém me ajuda?! Esquece, prefiro ficar sozinho... Não, sozinho não! Tu tá louco?!?! Sempre fui, mas é que... Opa, um espelho, achei! Espera, deve estar quebrado, não é como os outros espelhos. É que na minha vida tive muitos espelhos e sempre gostei de todos, mas desse não. É feio, não consigo usá-lo. Também é repulsivo. E ele tá ficando embaçado... Já sei, deve ser a droga da neblina. Desculpa.

domingo, 25 de abril de 2010

SIM

Mais um domingo cinza. A vitória no grenal serviu pra fornecer duas horas de esquecimento e diversão alienada, mas foi só. Agora estou aqui novamente naquele desânimo, naquela inércia natural desse dia. Sem vontade de falar com ninguém, sedento por fazer algo divertido, mas ao mesmo tempo achando que nada pode trazer a felicidade. Amargo paradoxo esse. “Que tal escrever pro meu blog?!”. “Ai, que preguiça, não vou fazer isso...”. “Vamos lá, por favor...”. “Tá bom, SIM, vamos lá!”.

O sim, a afirmativa, a aceitação, fez com que eu realizasse algo diferente, algo que aquecesse a escura e gelada caverna dominical. Porém é difícil dizer sim, exige coragem, ousadia. O NÃO é mais imediato, muito mais seco e seguro. NÃO! Pronto. Acabou. Nada vai mudar. Fim.

 Agora o sim requer um comprometimento, tornando-o mais “complicado”. Quem aceita alguma coisa está querendo dizer “ok, eu não sei aonde isso vai dar, mas vamos lá, eu me comprometo a fazer isso pois talvez seja proveitoso”. O problema é que todo comprometimento gera uma certa pressão – “bom, agora que aceitei terei que fazer”, pensamos. E como já escrito por aqui algumas vezes, acredito que nós não sejamos muito preparados para lidar com pressões. Sem falar da aversão ao novo e ao diferente que adoramos exaltar e que um sim pode trazer.

Então pode ser que aí esteja também a preferência das pessoas pela imediatez da negação. Ela é muito mais confortável, visto que não gera comprometimento nem pressões. Nem mudanças. Ou seja, quem é completamente feliz pode continuar negando tudo durante toda sua vida, já que continuará nesse estado de espírito para sempre. Entretanto, somos nós completamente felizes?!

Eu não sou, portanto me resta dizer sim para as oportunidades que aparecem, na esperança de que algo mude e me satisfaça. Um sim pode render uma experiência horrível ou uma maravilhosa. Quem gosta de arriscar pode ser altamente recompensado. Enquanto um não nos mantem estáticos e na dúvida...

...Aquilo poderia ter sido incrível, eu poderia ter sido muito feliz. Mas eu não tive coragem, preferi agarrar-me a vários nãos bem grandes e sólidos que sobrevoavam minha cabeça do que dar boas vindas àquele sim bem tímido e pequeninho que tentava se esconder....

Sem comprometimentos, sem aceitações, sem mudanças. É assim que vivemos hoje. É assim que encolhemos nosso mundo e diminuímos nossas oportunidades. Por puro medo...

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Agradeço ao professor substituto da aula de teatro de ontem que me inspirou a escrever sobre esse assunto. Também agradeço a todos medrosos que adoram dizer não por igualmente me deixarem com vontade de me expressar sobre isso. E finalmente agradeço ao domingo, único dia capaz de me fazer sofrer o suficiente para que eu tenha coragem de atualizar meu blog.

E, SIM, escrever me deixou mais feliz.

terça-feira, 16 de março de 2010

O mundo não é só aqui

O mundo é gigante, mas poucos tem a iniciativa de conhecê-lo. Preferimos nos estabelecer em algum lugar e ali criar uma rotina. Lenta e sem graça. Porém segura.

Às vezes, nas férias, acontece uma viagenzinha rápida para algum lugar. Mas tentamos não nos envolver muito com os novos ares. Preferimos ficar isolados em hotéis e visitar o maior número de shoppings possíveis para trazermos objetos “de fora”.  Além disso, visitamos lugares que “temos que visitar”, mesmo que não nos atraiam nem um pouco. Os museus são bons exemplos. Eu não me interesso muito em museus, não me lembro de ter visitado algum em Porto Alegre ou Viamão. Entretanto, já fui em vários museus de cidades que visitei, pois reza a lenda da sociedade que devemos visitar museus quando viajamos. E as minhas visitas foram um tédio...

Eu acho que viagem válida é aquela em que deixamos a nossa cultura de lado e tentamos absorver ao máximo os costumes do local visitado. Temos que esquecer o rótulo de “turista” e agir como alguém que quer se adaptar ao novo habitat. Fazer coisas que as pessoas nativas fazem. Elas gostam de ir à Igreja sábado à noite? Vamos experimentar! Elas gostam de visitar museus domingo à tarde? Por que não?!

Desse modo conseguiremos enxergar melhor o tamanho do mundo em que a gente vive e a diversidade quase infinita de pessoas, hábitos e culturas que existem. Em posse dessa visão, podemos selecionar as coisas com as quais mais nos identificamos, aquelas que mais nos completam, que nos deixam felizes. E assim a gente vai mudando, evoluindo - na busca do que nos agrada.

Infelizmente, para a maioria o mundo é minúsculo. Resume-se à cidade onde vive, onde trabalha. Limita-se às pessoas do seu círculo de amizade, aquelas que geralmente pensam e agem da mesma forma que a da própria pessoa. Diferenças não devem existir. São um abuso! Uma loucura! Todos devem se comportar seguindo um padrão, vestindo-se com o mesmo estilo de roupa, tendo pensamentos e opinões iguais. Não é igual?! Então vamos rir, desdenhar, humilhar! Sem ao menos se dar ao trabalho de conhecer ou tentar compreender, óbvio.

Eu era assim. Mas o meu intercâmbio para os EUA abriu minha mente para a grandeza do mundo e aprendi a respeitar o diferente. E é por isso que estou indo para a Irlanda, estou em busca de mais experiências como essa. Estou em busca da mudança, da evolução. Daquilo que me agrada. 

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Sugiro que todos façam uma viagem válida pelo menos uma vez na vida. Para aqueles que ainda não podem, sugiro que apenas tenham a noção de que o mundo não é só aqui. Isso já é o bastante.