sábado, 30 de junho de 2012

Devaneios de uma Alma Doentia

Tenho pensado como a vida, o ato de viver, é egoísta. A gente vive pela gente e tão somente pela gente: pelas nossas aspirações e pela nossa feliciddade. Claro, que aqui e ali a gente pensa no outro, mas no longo prazo o que importa sou eu. Ademais, quem disse que as coisas que eu fiz pelo outro não foram somente para o meu bem, pra eu me sentir bem, pois me sinto bem quando assim o faço?! É meio nojento pensar assim, pois tudo perde o sentido de ser como é. Fica faltando algo, uma aspiração que seja diferente das minhas. A única coisa que consigo encaixar como um verdadeiro ato altruísta é a morte - quando a pessoa morre, ela acaba com o seu egoismo, libertando-a e cometendo seu único ato de solidariedade durante toda su existência - deixar a vida para os outros a viverem.

Eu não entendo quase nada de filosofia e raramente leio algo sobre, mas eu já me deparei com 2 conceitos com os quais eu me identifiquei, pois se encaixam muito bem no meu jeito de levar as coisas: o niilismo e o hedonismo

O niilismo é o que eu penso/sinto quando eu estou nos meus dias mais deprês: uma ausência de finalidade e de resposta ao porquê, pois nada importa, tudo tanto faz. Isso me deixa numa prisão, numa paralisia e uma incapacidade de avançar. Tem gente que diz que o niilismo tem seu lado positivo, pois com a ausência total de cada fundamento, nossa liberdade e responsabilidade não estariam mais sufocadas e controladas. Eu, todavia, infelizmente só consigo enxergar o lado negativo.

Já o hedonismo é o que eu penso/sinto nos meus dias mais felizes: vamos procurar o prazer (entendido como felicidade) a todo custo, vamos viver agora, foda-se o resto. Tudo pelo meu prazer, sejá lá como eu consigo alcançá-lo. O amanhã não me importa.

Entretanto, eu não consigo não classificar tais conceitos como uma utopia, uma impossibilidade de se "colocar em prática", visto que todos nós somos regidos por uma filosofia muito maior e que atualmente é a que está em vigor na humanidade: o capitalismo. Todos vivem para o capitalismo. Antigamente (mas nem tanto), as pessoas ocidentais viviam pela filosofia do catolicismo: tudo o que faziam era em nome de deus e em busca de uma vida eterna ao seu lado. Depois da revolução francesa, o jogo virou, e o poder do clero/monarquia foi para a burguesia, tornando o capitalismo a nova filosofia regente. Nós vivemos por ele, nossas ações são por ele. Fazemos tudo para ganhar dinheiro - seja adquirir experiencia, se formar, fazer curso, inovar, usar a criatividade... Tudo pelo poder do dinheiro, pois este seria capaz de comprar qualquer coisa e, caso algo não vá bem com a gente, bastaria ter uma razoável quantia acumulada no saldo bancário. Pronto, tudo seria solucionado.

É importante frisar que, sim, eu acredito que a pessoa possa ser feliz caso obtenha o chamado sucesso na vida capitalista. Contudo, isso apenas ocorrerá se ela realmente acreditar no capitalismo e no que ele "prega" (dinheiro =  felicidade). De forma análoga, o catolicismo só fará sentido àqueles que acrediterem no que está sendo pregado. Quem é cético, não conseguirá se sentir melhor ao ir em uma igreja.

A grande questão é a imposição e a disseminação quase que total de uma filosofia. A humanidade tem bilhões de anos, mas nos últimos 200 a gente tem vivido como exposto acima - para o sucesso no capitalismo - e a gente faz parte ativamente da história. Entretanto, a filosofia do capitalismo nos é socialmente imposta, com pressões morais e sociais fortíssimas, a ponto de morrermos ou sermos totalmente excluídos do certame caso não a sigamos. Da mesma forma como morriam aqueles que não seguiam deus, Jesus e a Bíblia na era do catolicismo.

Portanto, é inviável "praticar" o niilismo ou o hedonismo no meio em que vivemos, pois isso nos prejudicaria muito no que tange a nossa filosofia-mor corrente. Acredito que é por isso que eu não consiga aproveitar o lado bom do niilismo (a total liberdade), pois caso o faça, falharei no capitalismo com absoluta certeza. Também é impossível lutar - pelo menos em apenas uma geração - contra o que já está enraizado na nossa sociedade. Logo, o que eu percebo é que eu TENHO, sou OBRIGADO, a acreditar no capitalismo como a única saída. A outra alternativa seria ir "contra", de alguma forma, mas isso acarretaria numa auto-flagelação, pois as pressões sociais e as dificuldades me levaria a uma exclusão de tudo. E eu não consigo imaginar uma vida sozinha sem interação social.

E onde eu quero chegar com isso tudo? É que nem sempre uma imposição é cumprida sem questionamentos, e tem dias que eu não consigo acreditar nessa ilusão e perco as esperanças, pois não vejo saída. Tá todo mundo cego diante do seu egoismo, crendo que o norte da vida é esse. E se elas realmente creem nisso, que bom, pois conseguirão ser felizes! O problema é quando a pessoa não crê que isso esteja correto. E é por isso que dizem que a ignorância é uma benção.

Pelo menos são apenas dias de sobriedade - geralmente eu consigo fazer perfeitamente o meu papel na nossa filosofia atual, como um bom agente da história atual. =)

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Bom, depois de tanto "devaneios de uma alma doentia", deixo uma música que tem me companhado essa semana. Eu conhecia a banda só de nome e de algumas poucas músicas, porém pude assistir ao o show deles no Quilmes Festival. Nada me chamou muito atençao, com exceção da última música do show, que pude guardar na minha memória devido à emoção da interpretação:



P.S.: Hoje estou hedonista, hohoho =*

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Acima de 100

E aquele fervor que incomoda. Ali, bem dentro da barriga, preso porém vivo. Brasas. É uma esfera com peso de tijolos e com brilho de estrela. Fantasia-se de ansiedade, deixa-me inquieto e em movimento, mas seus trejeitos lhe entregam. Fora daqui, impostor! Não sei bem quem tu és, mas conheço muito bem tuas consequências. A mim tu não enganas, resta-me apenas saber como lidar contigo. Aprender a te expremer, virar-te, amassar-te, tirar todo o teu sumo e embriagar-me com teu néctar viril.

Vai esperando, caro amigo. No momento tu me manipulas, deixas-me louco, és o rei desse feudo misterioso. Em breve, teu trono será meu. Estás fadado a ser meu súdito, trabalharás unicamente para meu prazer e minha serenidade. Estou ciente dos teus poderes e das maravilhas que és capaz. Resta-me apenas descobrir a fórmula para transformar os tijolos em penas e libertar aquela estrela de sua jaula, fazendo uma explosão radiante de luzes vir à tona e deixando rastros de beleza pelo meu caminhar incerto.

Estou chegando perto. Temas.

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Hoje estou com febre
Mas não foi o que o termômetro me falou
Perdoa-me, adorável, mas não preciso de ajuda para saber o momento em que estou em ebulição
Com sabedoria, reconheço o mal que me tomou
E passivamente, sinto. Sinto o tremor, a fúria e o calor de um vulcão em sua exuberante erupção



... só espero, com angústia, que aquele magma não suba para meu peito, dissolvendo todo meu coração...

terça-feira, 5 de julho de 2011

abaixo de zero

Um ano de frio, de muito frio. Frio que faz minha respiração servir apenas pra produzir o bafo que vai virar um desenho torto no vidro da janela. Frio que consegue congelar minhas lágrimas antes que elas possam sair da prisão dos meus olhos. Frio capaz de transformar essas mesmas lágrimas em duras e salgadas pedras de gelo, que mastigo e devoro com um prazer sombrio. Frio que assusta o sol, que - com medo de perder o seu calor - deixa tudo escuro. Tão escuro que nem mais a faísca que sai dos teus olhos conseguem me esquentar, ou, ao menos, me guiar. 

Um ano entrando no fundo do meu guarda-roupa todos os dias, sempre procurando o blusão mais bonito, o mais quente. Em vão. Nunca é o suficiente, é frio demais. Frio que gera neve que tudo encobre, todos os planos, todas as certezas. Tudo bem devidamente perdido dentro do frio.
Soterra.

Mas eu não me importo. Quando o sol tiver coragem, ele volta. Então tudo vai ficar claro como seu brilho imponente. E toda aquela brancura vai se derreter. E tu vai te derreter mais ainda, pois vão aparecer as flores mais coloridas e perfumadas que tu já pode ver, sentir, tocar. As flores mais bonitas, eu prometo! Ou então...
...só terra.
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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Passado distantíssimo

Em algum bar, há muito tempo, em algum lugar do Rio Grande do Sul:

- E se teu filho que vai nascer não for Católico?
- O que que tem?
- Eu digo, como tu vai reagir, como tu vai lidar com isso?
- Normal, ué! Qual é o problema?!
- Ah, tu sabe, tem muitos problemas, as outras pessoas vão ficar falando...
- Pois pra mim não tem problema algum. Eu felizmente já não me importo com a opção religiosa das pessoas.
- Eu sei, eu também não tenho preconceito algum, longe de mim... Mas tu sabe como é... Se eu pudesse escolher, eu não vou mentir que preferiria mil vezes que meu filho fosse Católico.
- Pra mim que ele seja o que ele for, pra mim realmente não faz a menor diferença. Já não consigo mais entender essa preocupação toda com esse assunto...
- Ah, tu sabe que se ele não for Católico ele vai sofrer muito, né?! Imagina na escola o tanto de preconceito que ele vai ser vítima! Todos os colegas rindo da cara dele e ele chegando em casa triste, traumatizado, coitado. Aí depois tem que até procurar psicólogo pro guri, depois psiquiatra, remédio tarja preta, essas coisas... Infeliz...
- Infeliz?!
- Sim, infeliz! E agora imagina todo mundo, todos os amiguinhos dele, rezando Pai Nosso, Ave Maria, agradecendo Jesus pelas bençãos que Ele nos oferece... E teu filho lá num cantinho, excluído, ou pior, tendo que fingir uma prece sem acreditar ao menos em uma palavra da oração. Tadinho...
- Mas...
- E isso sem falar nas oportunidades de emprego perdidas, na violência gratuita contra ele, no mau olhar do Padre José e seus seguidores! Pobre...
-  Porra, tu fala de um jeito como que se quem não fosse católico fosse um miserável incapaz de ser feliz!!
- Não é isso, tu sabe que eu sou um cara bem mente aberta, mas toda essa gente do Padre José... Tu conhece eles... Eles nunca aceitariam alguém não Católico na comunidade e até eu e minha esposa sofreríamos as consequências caso nosso filho fosse um deles.
- E isso lá vai ser culpa do meu ou do teu filho?! Isso é culpa das pessoas que não aceitam que ele tenha a sua própria religião! Felizmente o mundo é imenso e existe uma infinidade de pessoas, muitas delas com ideias e características semelhantes às nossas, com as quais um bom relacionamento é possível. Com certeza haverá espaço de sobra, aqui ou em qualquer outro lugar, para que meu filho seja tão feliz quanto qualquer um, sendo católico ou não.
- Mas...
- A questão é que eu realmente não me importo com a religião dos outros e, inclusive, acho que as pessoas se preocupam demais com um assunto como esse, que no fim não vai fazer a mínima diferença na vida delas.
- Mas então pra ti realmente não faz diferença alguma se teu filho for um "não Católico"?!?
- Não!!! E acho incrível como as pessoas ainda se chocam com isso. A vida é exatamente ISSO! Não há motivo pra "exigir" uma uniformidade, poxa...
- Hmm, to começando a desconfiar que tu é um baita ateu, hein...
- Olha, se isso é de extrema importância pra ti, eu te digo que não, eu não sou ateu.
- É que eu não consigo entender... Como eu te disse, eu preferiria que meu filho fosse Católico. E olha que eu sou um cara totalmente sem preconceitos!
- Tá bom, depois continuamos esse assunto, nossas bebidas estão chegando...
- Finalmente!
- Um brinde! ...Que foi? Algo errado??
- É que esse piá me trouxe vinho branco em vez do tinto que eu tinha pedido. Ele sempre erra os pedidos! Só podia ser um crioulinho mesmo...

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Ainda bem que atualmente não existe nada parecido com isso, não é verdade?

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domingo, 10 de abril de 2011

Labirinto

Eu gosto de labirintos. Especialmente aqueles de cores verde-musgo, bem escuros, com muitas voltas, muitas falhas, muitas armadilhas. Especialmente aqueles que me sufocam, que me pressionam, quase me esmagam, que se fecham em torno de mim, tirando minhas forças e minha visão, mas me fazendo gargalhar de satisfação. Os que giram e não param de girar também são divertidos - fica mais complicado. E de repente começo a escutar cochichos que imploram por mim, e alguns pontos começam a brilhar, e eu me torno apenas mais um ser celeste em uma atmosfera infinitamente abafada. Os cochicos tornam-se vozes e logo em seguida gritos. Gritos de socorro, gritos de incerteza. É a minha mente pedindo pra sair dali - urgente. O labirinto está escuro demais, não há mais como achar a saída, diz ele. Confie em mim, vai ficar tudo bem, respondo. A velocidade aumenta, e quanto mais gira mais energia sinto, a ponto de levitar para depois voar e sentir o frescor do vento úmido batendo na minha face. É tão prazeroso... Mas eu agora eu preciso descansar - aterriso e fico ainda mais perdido. É tão gostoso... Corro, salto, giro, bato-me contra as paredes e dou muita risada de tudo isso. A saída? Quem disse que existe?!

"Mas você disse para confiar em você!", reclama.

"Não, nunca confie em mim, nunca confie no que digo, nunca."
.silêncio.
"Ah, eu já te disse que gosto de labirintos?"


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Domingo de sol aqui. Dia de Mauerpark! =)





segunda-feira, 4 de abril de 2011

Uma Sopa

São 10h da manhã e ele está dormindo. Dentro dos seus sonhos ele foge de dezenas, talvez centenas de abelhas. Elas não desistem de persegui-lo por mais rápido que ele corra. E elas fazem um barulho horrível, um 'ZZZZ" ensurdecedor. Agora já são milhares de abelhas, o zumbido fica ainda pior 'ZZZZZZZZZ!'. Ele precisa achar um rio, um lago, enfim, água! Rápido!!

ZZZZZZZZZZZZ!!!

"ZZZZZ!", toca a campainha. Ele demora uma fração de segundos pra se localizar. "Onde estou?! Que dia é hoje?! Tenho aula?!". São centésimos de segundo de agonia e desespero. Mas também são milésimos de segundo de liberdade - nada mais importa, a noção já fora embora, sou apenas um corpo.

Aos poucos o quebra-cabeça vai sendo solucionado. Por algum motivo ele está dormindo no sofá e por algum motivo sua cabeça doi e seu corpo pede socorro. Ah, sim, a noite anterior deve ter algo relacionado com isso. Duas pessoas estranhas entram no apartamento carregando um aspirador em pó e perguntam algo indecifrável para aquela hora da manhã. Ele apenas responde "sim, claro!". Os dois rapazes atravessam a sala, sobem as escadas e ligam o equipamento que carregavam. O zumbido das abelhas era muito mais prazeroso que aquele que agora ouve. Saudades de seus sonhos, quem nunca teve... 

Em apenas 2 minutos, ou menos, o serviço fora feito e os dois figurantes deixam o palco desejando um bom dia ao personagem principal.

O bom dia começou com ele lutando para levantar-se do sofá e sofrendo para chegar ao banheiro. Lá ele senta-se na privada e vê o mundo girar. E como gira, e como dá voltas esse mundo. Com muito sacrifício consegue tomar um banho, mesmo que cada gota de água rasgue sua pele à medida que vai escorrendo pelo seu corpo. Na sua cabeça só há espaço para arrependimentos e promessas de que isso nunca irá se repetir. "Ah, como a vida é sem graça, como tudo é superficial, como as pessoas são sanguessugas, como tudo é lento, arrastado e desinteressante..."

Por fim, devidamente arrumado, percebe que tem fome. Há de comer. É um humano e humanos sobrevivem de alimentos, entre outras coisas. Abre sua geladeira e enxerga pão, ovos, queijo, ketchup e cebolas. Seu estômago manda um recado ao seu cérebro "Isso não! Isso é impossível agora". Ele pensa em como a natureza é injusta, pois ele necessita comer mas ao mesmo tempo não pode, não é capaz. Ah, se todas comidas fossem vendidas em formatos de pílulas, estilo vitaminas ou algo similar, mas contendo todos os nutrientes necessários para o bom funcionamento de nossas habilidades. Tudo seria mais simples e rápido. Claro, teriam aqueles que contestariam essa ideia pois o prazer em comer deixaria de existir. Mas nesse momento o prazer em comer não está em suas prioridades, ele só precisa de algo que o deixe instantaneamente vivo novamente.

Decide vasculhar a geladeira mais uma vez. Atrás das cebolas encontra algo diferente. Tira as cebolas da frente daquele objeto misterioso e se depara com uma sorridente garrafa de vodka. Um sorriso sarcástico, claro. Seu estômago embrulha e implora para mandar algo para fora. Sorte que ele está há algumas horas sem comer, então não há perigo de sujar o chão recém limpo pelos dois sujeitos estranhos. Fechada a magra geladeira, passada as náuseas, uma imagem salvadora e iluminada surge em sua cabeça: daria tudo por uma sopa. Uma sopinha. Bem quentinha, bem cremosa, perfeitamente temperada. Poderia ser de batatas, com fatiazinhas bem macias daquele tubérculo sendo suavemente mastigados pelos seus ferozes e necessitados dentes. Ou então poderia ter pedacinhos suculentos de carne, não importava o tipo, apenas carne. Mas teria que ser pedacinhos pequenos mesmo, tipo guisado, senão seu organismo teria que trabalhar demais pra fazer a digestão. Ah, e se tivesse um temperinho verde pra dar aquele sabor especial, aí sim seria perfeito... Hmm, interessante como as pessoas entram em contradição tão rapidamente. Quem seria tão idiota e insensível a ponto de querer se alimentar apenas de pílulas?!

Partiu, então, em busca de seu idealizado objetivo. E já sabia até onde encontrá-lo! Obviamente seria no restaurante ao lado de seu prédio, pois assim o calvário seria menor. Chama o elevador. Pra variar, ele não está no andar em que nosso amigo se encontra. Aliás, o elevador do seu prédio é capaz de extinguir qualquer probabilidade. Sempre que precisa-se dele no terceiro (e último) andar, ele econtra-se no térreo. Sempre quando necessita-se dele no térreo, ele está no terceiro.

Após longa espera, abrem-se as portas da esperança. Ele entra na caixa metálica e aperta o número "0", que estranhamente significa térreo. O desespero toma conta no espaço de 1m²: havia esquecido sua chave dentro do seu quarto. Teria que voltar, tocar a campainha e acordar seu colega de quarto. Seu colega de quarto ficaria irritado com tamanha afronta e começaria a sabotá-lo. Talvez como forma de vingança tentasse roubar seus pertences, ou então colocasse um vírus em seu computador. Sua vida se tornaria um inferno, teria que procurar outro lugar para morar. Estava completamente perdido...

Ainda no elevador resolve mexer no seu bolso. Ah, a chave estava ali! Incrível! Que alívio... Tenta se lembrar do momento em que a colocou no bolso mas logo desiste. Não faz ideia. "Curioso como às vezes agimos como legítimos robôs", pensa. "São ações meramente automáticas. Não raro até nossos pensamentos seguem determinada programação", conclui desanimado.

Sai do elevador e dirige-se à porta da recepção. Antes é obrigado a passar pelo pátio do prédio e lá observa coisas estranhas. Há pessoas vestidas de noivas, há seres fantasiados de Elvis Presley, há crianças brincando com bola e gritando, há até mesmo câmeras filmando isso tudo. Nada disso chama sua atenção, nada disso tem alguma importância. Mesmo que uma espécie rara de dinossauro passasse na sua frente, ele não daria bola (não que existam muitas espécies de dinossauros não raras nos dias de hoje...). Ele tem apenas um objetivo e está determinado a alcançá-lo. Ele quer - e como quer! - uma sopa.

Já está na rua e caminha para o restaurante vizinho. Ele sabe que esse restaurante tem a fama de ser caro, mas  não deve ser tanto assim, as pessoas costumam exagerar um pouco. Chega na frente do local e lê o quadro escrito a giz: "Promoção - salada por apenas 12 merckels". Doze merckels por uma salada?? O mundo capitalista não é nada justo. 

E assim ele muda seus planos e decide procurar outro lugar que venda sopas por um preço justo, ou, no mínimo, acessível. Caminha pela rua como um zumbi, nada enxerga e nada escuta. A parte humana que um dia existira em seu corpo já não encontra-se mais presente, agora é apenas um animal seguindo seu instinto de sobrevivência. Avista um lugar chamado "Super Sopa". Seu coração bate mais forte, seu cérebro volta a funcionar e a hipotetizar. Certamente naquele recinto eles devem ter todos os tipos de sopa existentes no mercado. Com certeza desfrutará da melhor sopa já degustada em sua vida. Afinal, não é qualquer lugar que possui a coragem e o respeito necessário para auto denominar-se "Super Sopa". 

Aproxima-se do paraíso, entra, checa o cardápio. Peixe e batatas, salmão, peixe especial com batatas, porção grande, porção pequena, bacalhau e batatas, apenas batatas, peixe com cebolas e batatas... ONDE ESTÃO AS SOPAS??? Não existem sopas. Não existe sequer UMA sopa no restaurante chamado "Super Sopa". Tenta entender por que às vezes o ser humano é tão cruel, tão incompreensível com o sentimento dos outros, a ponto de não vender sopas em um lugar em que obrigatoriamente tal negócio deveria ser realizado. Desiste. Sua abstinência de comida e a complexidade de seus pensamentos não o permitem encontrar a resposta. Volta para a rua e continua sua busca ao tesouro.

Segue caminhando pela rua sem destino certo. Durante o percurso acizentado, encontra muitos restaurantes, inúmeras opções, o que significam escolhas a serem feitas. Às vezes escolhas são ruins, escolhas cansam, escolhas doem. Requerem decisões e responsabilidade pelo seu resultado, o que geralmente não é de nosso agrado. Não sabe para onde ir, não sabe onde mais tentar a sorte. Está cansado, pensa inclusive em voltar para casa com a missão incompleta. Continua, entretanto, sua jornada...

"Sopa de batata com pedaços de carne: 4 merckels". Talvez seja uma miragem. Esfrega seus olhos, lê novamente. "Sopa de batata com pedaços de carne: 4 merckels". Se estivesse vivo, se não fosse um zumbi, choraria. Não chora, apenas caminha, mas dessa vez caminha com vontade, com gana. Tudo começa a ficar mais colorido, a vida ganha uma razão de existir. Ah, que dia lindo, que ar maravilhoso! Como é bom estar aqui, olha como aquelas crianças são lindas brincando na grama, que por sinal é incrivelmente verde!!!

Dá passos firmes em direção ao balcão. Não pensa - as palavras apenas saem da sua boca como se seus lábios tivessem vida própria, como se fossem uma máquina. Máquina que são, cometem erros e misturam idiomas diferentes. Perdoável, pois a excitação é grande, é gigante. Perguntam a ele se ele deseja pão para acompanhar a sopa. Seriam eles capazes de tamanha generosidade? Pão com a sopa?! Como o ser humano é bondoso, como é compreensível com os seus similares, sempre entendendo as dificuldades alheias... Claro que ele aceita! Muito obrigado, meu amigo!

De posse do seu bem mais precioso, segurando-o firme com a duas mãos, procura um lugar livre para sentar-se na parte de fora do restaurante, sob sol que infelizmente está coberto por nuvens. Sem dificuldades, encontra um assento. Senta-se. Respira. Olha para sua sopa, admira-a por alguns instantes. Como é bela, como é perfeita, como é viscosa. Agarra sua colher e come. Come como nunca tinha comido antes. Devora. Se pudesse não utilizaria colher, beberia tudo direto da tigeja, sem pudor nem culpa. Controla-se. Vai saboreando cada colherada ao máximo. De vez em quando molha o pãozinho no líquido sagrado e mastiga aquela combinação perfeita com suave ardor. Vai sorvendo cada gota daquela sopa maravilhosa. Sente todos os nutrientes sendo absorvidos pelo seu organismo. Imagina seu coração bombeando com extremo alívio um sangue revitalizado, um sangue vermelho brilhante, para as demais partes de seu corpo. Está realizado, está deliciado e não precisa de mais nada. Está apenas completamente feliz.

Faltam apenas duas colheradas para terminar sua refeição e já se dá por satisfeito. Obviamente irá terminar o serviço, pois não será sacrifício algum. Olha para seu lado e percebe que há uma latinha de Coca-Cola no chão, há uns 5 metros de si. Por algum motivo, a latinha vermelha chama sua atenção. Analisa com maior cuidado e percebe que há uma abelha sobrevoando as redondezas daquele objeto. A abelha efetua alguns rasantes, alguns mergulhos e finalmente toma coragem de aproximar-se do cilindro metálico.

Com toda a calma do mundo, com a suavidade de uma pena, a abelha pousa. Sem pudor nem culpa, ela caminha até a boca da latinha. Ela encontra algumas gotas da sua refeição favorita e as sorve ferozmente, com a intensidade do voo de uma lagarta recém descoberta borboleta. Ela também está realizada. Está apenas completamente feliz.

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E nesse momento, as nuvens cedem espaço ao poderoso brilho do sol. Um horizonte infinito e iluminado fora revelado. Um céu azul e promissor fora encontrado. 

Tudo isso graças a uma sopa.


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domingo, 3 de abril de 2011

On the Other Side

Here we go with my second text in English. This one was created from an idea that my classmate Elena had. We had chosen one song and we wrote something from the 'song inspiration'. The chosen song was The Strokes - On the Other Side (I could embed the Youtube link here if I wasn't living in Berlin. Here in Germany most music videos are blocked due to issues between the record labels and the German YT. It really sucks!). This text also reflects some thoughts that can be found in my last 2 texts, so the Brazilian readers are going to notice some coincidences :)


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He lives in a bubble. It's hard when you can't be seem and when you can't be heard by anyone, even if you shout so loud that you can feel your lungs being smashed inside your painful body.
But the funny thing is that he's not a prisoner from the bubble, he can get out of it whenever he wants - but he never wants.
It's also hard to him to see everything plainly white and black, even though he knows everything around him is so amazingly shiny and colorful. Unfortunately, all he can feel is nothing. It's just a dark and cold cave and all he can do is keep walking alone, dizzy and inert, running in circles, without any direction, with no objectives.
Walk, run, walk... Take care not to get lost in your cave, my friend.

He wants everything. He wants to live right now - he wants to live also the future now.
He wants to learn everything, but he does not want to learn too much - sometimes it can be dangerous. ..
He wants to walk in the clouds - but he doesn't want to walk with no floor in a white forest.
He wants to walk on the street - but he also needs freedom for his feet.

He got lost in his cave. He got stuck in his viscous bubble.
Now he doesn't want everything anymore.
Now he just wants nothing.

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Wake up. There is a nice weather outside.
I know you can get everything you want, and I also know how difficult is when you actually don't know what you really want.
But try to feel it now, open your eyes, breath the fresh new air, you need it sometimes.
Go!


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His bubble had exploded, he felt the joyful water running through his fingers, he smelled the sweet fragrance of an air not too stuffy as before.
Slowly, bit by bit, he was able to see the colors again - first the brown, then the yellow, and finally the blue.
He's on the other side now. It seems that everything reached its maximum fulfillment, all the chains were broken and there is no fear and no doubts anymore. It's just like a sweet colorful explosion bursting out from your veins and reaching everybody surround you with its magical, powerful and ardent spell. Simple like that...

Oh, the other side is so bright, so full of energy, so delicious and exciting...
...At least for a while...
...Because soon the other side will become just another old grey side...


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quinta-feira, 31 de março de 2011

Coisas Boas

Como é ruim só conseguir enxergar o preto e o branco quando as cores são as mais reluzentes já vistas.
Como é ruim sentir o peso do vazio amassando, amassando, amassando...
Como é ruim provar um pouco do doce só pra depois se entupir do amargo.
E como é pior quando o doce estraga e amargo fica.

Como é ruim não conseguir escutar, não conseguir apreciar
Como é ruim poder escutar mas não ter o que admirar
Como é ruim viver em uma bolha, sem poder ser visto, sem poder gritar
E como é pior preferir a bolha a qualquer outro lugar.

Como é ruim caminhar nas nuvens, sem chão, sem direção
Como é ruim caminhar na rua, limitado, sem ação
Como é ruim ser percebido como uma grande ficção
E como é pior perceber tudo como uma grande ilusão.

Como é ruim ser incapaz, tentar conseguir, mas não ter forças.
Como é ruim não compreender, tentar descobrir e continuar não compreendendo.
Como é ruim saber que tudo pode ser colorido, leve, doce, amplo, livre, real, real, real...
Mas como é pior na real não ser nada, na real não estar nada.

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terça-feira, 22 de março de 2011

Agora

Aos poucos vai chegando e ele vai sentindo.
Sentindo sem poder explicar. Até porque não poderia.
Tudo é tão belo e tão agradável, do jeito que sempre quis.
Mas tudo tão vazio e frágil. Apenas um toque e puf - desmancha.
Desmancha e incomoda. Desmancha e irrita.
"Nicht interessant, nicht interessant..."

Tenta fugir pra descobrir. Foge e não descobre.
Pior, foge e se perde. Perde-se profundamente.
A hora é agora, mas onde estão escondidos?!
Talvez o que lhe dizem é verdade, aliás, nunca negou.
Sempre soube, mas sempre teve medo.
"Verrückt! Verrückt!"

Sua noção de tempo já está distorcida.
Quer o futuro sem deixar o presente. Quer demais, quer demais...
Tem medo do depois, tem medo do agora. Teme.
Incapaz e inerte ele tenta e não para de tentar.
Pensamentos distantes vão crescendo, mas é bobagem.
Nunca atingirão a maturidade.
"Achtung! Achtung!"

Aos poucos, aos poucos...
Quer parar de atuar pra amarga plateia.
Quer viver no palco com seus amados.
Todos compreendendo tudo, mesmo sem entender nada.
Tirar as pedras do estômago, um ar fresco para sua pele.
Um ar fresco de primavera.
Ou, melhor, um ar quente de inverno.
É o que precisa.
"Jetzt"

sábado, 12 de março de 2011

New Seas

When she clumsily and ungracefully entered late into the classroom, Adam immediately felt something magically different in the air. Her name was Emily and she had a conspicuously strong Canadian accent, although his amusing way of speaking didn’t let him lie he wasn’t from Australia. Both were in Ireland, putting up with the absolutely unpredictable Irish weather, in order to get a diploma in Arts. Of course they had crossed the world for other reasons as well. They intuitively knew it’s easier to forget and to start anew when you feel the wind being blown smoothly by a different sea. And so they courageously took a risk of revivifying their painfully broken hearts. Weeks of complete fulfillment came. It was just totally pure love and nothing else to care about.

However, June came and in June things tend to change creepily. Adam had to move to Greece. Emily surprisingly had to return to Canada. But they deeply loved each other, so promises were made. He would go to Vancouver incredibly soon. He took forever. She would be passionately waiting for him. Unhopefully, she just waited.

It was a new season. New seasons require fresh air. New seasons require new seas.

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Esse texto foi escrito há quase 2 meses e era um tema ("tarefa", "lição", "dever", pra quem não sabe gauchês) do curso de inglês.

Fiz uma releitura dele hoje e me identifiquei com o meu momento agora. Novos mares e ar fresco, uma nova temporada. Começar tudo do 0, tudo de novo. Dá medo e, sim, é difícil. Mas rapidamente a massa vai tomando forma e as cores ficam mais palpáveis.

Desta maneira, o que me resta é desfrutar de todas as cores e de todas as formas que aparecerem. Desfrutar e esperar. Pois em junho as coisas tendem a mudar lenta porém completamente. Afinal, junho é uma nova temporada, e, acima de tudo, uma nova (mais uma) estação.

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Não, não esperem um texto em alemão daqui 3 meses.

Tchüs.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Frenético.

Carta ao amigo escrita em 31/12/2009:

"che loco,

como twittado hoje por mim:
'2009: louco, veloz, confuso, surreal, intenso, vivo, emotivo, radical, selvagem, lindo, assustador... frenético. ufa.'

foi tudo muito rápido e non-sense e essa última semana ta ainda mais intenso e louco e novo, é como se fosse um resumo do ano.
foi uma explosão de sentimentos e sensações, uma revolução em tudo.
sem dúvida o mais marcante até agora.

e o bom é que 2010 promete ser a mesma coisa multiplicada por 10.

feliz ano novo pra ti, pra nós!"



E foi. Não sei se multiplicado por dez, dois ou vinte, mas foi. Posso repetir todos os adjetivos citados acima. Mais um ano elétrico, recheado, potente.
Janeiro, o mês que não dormi. Trabalho escravo, festa libertadora. E aventuras malucas. Assim sobrevivi sem fechar os olhos e sem, talvez, respirar.
Bons ares vieram em fevereiro com a nossa viagem à Argentina. Lugar bonito, pessoas animadas, histórias para a vida.
Em março retiro minha gravata pela última vez no ano. Agora sim, respiro. E muito, pois o ar é cítrico e o vento é forte. Quando percebi, os primeiros acordes de "Welcome to the Jungle" já estavam sendo tocados na minha frente. Inacreditável - primeiro show do ano. E logo depois já veio o Franz de carona. Bom mês também para começar algo novo, algo que sempre tive curiosidade. Era difícil acordar aos sábados pela manhã, mas ao final das aulas a recompensa era grande. Mais uma vez, não me arrependi de ter arriscado.

Depois, abril e maio. Tudo fica confuso, tudo troca de lugar e a noção de tempo não há mais. Nem outras noções.
Quinta marcha, velocidade máxima.

amigos, laika, combo, open, dj, vômito, aulas (?), bolos de chocolate, ansiedade, vou, não vou, pessoas, amigos, lindos, lindas, grrrs, tepa, gasômetro, cinema, boteco, morte, vergonha, 39, loucura, bebida, porão, independência, colchão da mari, tepa, mímicas, amigos, sono, entusiasmo, setlist, padrinho, moby, perdido, vodka, agonia, sensual, engraçado, arriscado, curioso, coragem, criatividade, medo, satisfação, amor, como é bom, correria, chuva, café, cerveja, xirú, buzina, música, dança, gritos, carro, som, festa, bebida, leve, combo, louco, dança, sensual, perdição, amigos, volta, cuidado, choro, triste, confuso, ressaca, feliz, triste, confuso, confuso, completo, vazio e confuso.

Agora pára. Relaxa. Bem calminho... Respira bem fundo e fecha bem os olhos. Dorme. Isso...
Acordou, abriu os olhos e o outro lado do mundo diz oi pra ti. Tudo novo. É junho. E é verão.
O tão aguardado chegou. Acelera de novo até setembro!

hostel, francesas, alemãs, espanholas, delfin, temple bar,  etienne, daft, aluguel, pj, henrietta, casa, delfin, colegas, amigos, italianos, coreanos, espanhóis, verão, futebol, st. stephens, oscar, paluza, blink, mgmt, venga boys, londres, edimburgo, festas, despedidas. E mais, e mais...

Em setembro recebo a visita da minha irmã e todos juntos partimos pra uma bela eurotrip. Bruxelas, Amsterdam, Paris, Strasbourg, Frankfurt, Nuremberg, Praga, Walkertshofen, Munique (Oktoberfest!), Innsbruck, Verona, Brescia, Milão, Lyon e Paris de novo. Lindo.

Com nossa volta, em outubro, o inverno já estava dando às caras. O tempo começou a escurecer. Começou a andar com mais calma também, mais arrastado... Teve Lady Gaga no último dia pra trazer um ar mais agitado, mas depois o frio tomou conta outra vez.

Em novembro, Dublin começou a me agarrar com mais força e eu senti que poderia ser interessante. E talvez perigoso. Curiosamente foi no mesmo momento que percebi que em 2011 seria hora de honrar as raízes por 3 meses em Berlim. E teve também Foals e Klaxons.

Finalmente, dezembro. Começou com tudo. O show mais bonito que já vi na vida - Arcade Fire. Vampire Weekend e Two Door Cinema Club também não decepecionaram. Kings of Leon talvez. Faz parte...
Estava tudo muito bom, as coisas estavam funcioando dentro de uma engrenagem muito bem elaborada. Nem tanto...
Algumas peças caíram, foram embora (como sempre vão) e nada mais quis funcionar. Nada mais deu certo - muito pelo contrário. Resisti. O quadro colorido da parede desbotou. Resisti. A fumaça tomou conta da minha cabeça. Caí.

Agora já levantei, pois sei que vai começar tudo de novo. E eu quero mais, eu quero tudo. Não sei o que, mas eu quero. E eu to animado, eu to sentindo, eu vou conseguir. É lindo e é forte.

É 2011. Mais um ano que promete intensidade.
Ano novo; ano bom.
Deliciosamente selvagem.
Ou apenas... frenético.

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Prime of my life. O meu prime é agora. E o seu?

?

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Acontece.

Quando leio o que tá escrito no texto abaixo me vem à cabeça:




Acontece.

TEMPO

 Do meu texto Indigestão de maio: "Queria escrever que não sei se o tempo existe. Eu acho que não. Não sei, na verdade. E não to falando de horas, minutos e segundos. Isso eu já sei que não existe."

Vou falar o meio que óbvio, mas hoje eu vi tudo mais claro na minha frente. Veja bem, é bem madrugada e tamo todo mundo voltando de festa:

OK, to voltando de uma festa (já disse isso). Tomei bastante cerveja e tequila. Mas não consegui aproveitar minha festa direito. Fiquei pensando bastante em um assunto (hahahahaha, que exagero).

Tudo começou quando o Paluza disse que ele achava que o lugar em que a gente tava era maior da última vez que ele tava lá. Isso porque da última vez ele tava bem bêbado. Isso fez com que eu pensasse no assunto. É verdade. Quando estamos bêbados percebemos o nosso espaço físico maior. Talvez seja por isso que nos batemos tanto e perdemos a noção de espaço quando alcoolizados. Paluza gênio.

Da mesma forma, sob efeito de bebidas, a nossa percepção de tempo também muda bastante. Pelo menos para mim e para a  maioria das pessoas, ao beber, o tempo passa infinitamente mais rápido. Tem festas que acabam em 10 minutos, por exemplo, quando lembro no outro dia.

Ao analisar esses fatos, pensei que a que era possível mudar a nossa percepção de espaço e tempo. E fiquei com isso na cabeça. Lembrei da fórmula Velocidade = distância/tempo.
Se a distância aumenta e o tempo diminui, logo a velocidade fica constante. Portanto a velocidade seria a variável que rege o nosso mundo.

Entretanto isso não me satisfez. Com a ajuda do Cesar, percebi que com álcool no nosso cerébro a gente percebe tudo mais lento. Então a velocidade não poderia ser constante, pois a gente percebe coisas como o luzes piscantes ou "strobes" com uma velocidade diferente, uma velocidade menor. Isso me incomodou um pouco... Não só o fato da velocidade ser menor, mas também o fato de que aquela luz branca naquele intenso acende/apaga/acende/apaga quase me cegou.

Mas todos tem que concordar que quando bêbados a nossa percepção de espaco aumenta de uma forma diferente do que diminui nossa percepção de tempo. Por exemplo, se a percepção de espaço é "X", o nosso espaço aumenta pra 2x. Entretanto, se a nossa percepção de tempo é "Y", ela diminuiu pra Y/10. A percepção de tempo diminui numa proporção maior do que o aumento do espaço. Enquanto a festa resumiu-se a 10 minutos o ambiente físico dela havia aumentado não mais que 7 metros quadrados (não sei fazer o "m" com 2 em cima nesse teclado)

Deste modo, através de uma complexa manobra matemática, poderíamos isolar o T na fórmula mágica anterior. A fórmula "certa' seria T = D/V, pois. O que muda na gente é a percepção da velocidade. Quando a nossa percepção de velocidade diminui, o tempo também diminui e o espaço aumenta. Quando nossa percepção de velocidade aumenta, a duração do tempo aumenta e o nosso espaço diminui.


Mas qual velocidade seria essa já que velocidade precisa de um referencial? Não, sei. Talvez seja a velocidade da luz. Pessoas mais inteligentes e que conhecem sobre o assunto poderiam me responder.

De qualquer forma, o que importa para mim é o fato de que eu, e nós, podemos controlar o tempo. O tempo não existe da forma que o imaginamos. É apenas uma concepção. E podemos alterá-la!!! Basta alterar a nossa percepção da velocidade da luz... Porém, minha ignorância não permite dizer com quais meios podemos fazer isso aleém do já citado anteriormente =/

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Master of the obvious?!
Sim, são quase 6h da manhã e to voltando de uma festa forte. Esqueça tudo isso!!!
Apaga isso, queima ele, jesus!
Vamos dormir

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Arcade Fire

Foi uma das coisas mais bonitas que já presenciei.
Eu não considerava a banda como uma das minhas favoritas. Gostava sim, bastante, de várias músicas.
Porém nunca tive a oportunidade de sentí-las.
Esta noite eu tive.

Era como um raio, uma explosão. Te atingia por completo, um transe total.
Lindo demais ver a vida sendo esparramada pra fora por tanta gente. Medo, amor, saudade, esperança... Tudo isso sendo libertado a plenos pulmões por almas verdadeiras.
Eu senti. Eu me arrepiei. Eu vi que era sincero, percebi que era possível.
Eles fazem, eles podem... Eu posso!

Um novo conceito de show para mim. Espetáculo Esplêndido Espetáculo.
Algo mais profundo que a visão e a audição e que qualquer outra coisa.
Algo para ser admirado, perdido, morrido, vivido, sentido, queimado, doído e acendido.
Sem culpa, nem temor. Nem arrependimento. Apenas feliz.
Apenas simples assim.


Admirei e penetrei nos arcos. Me perdi. Mas não morri.
Vivi.
Senti e toquei no fogo. Me queimei. Mas não doeu.
Acendeu.

Obrigado.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Entrevista com o Espelho

Abaixo, colo a entrevista na íntegra para vocês:


"Na última semana, nossa equipe esteve na casa de Rodrigo Strassburger, um brasileiro que vive há quase seis meses em Dublin, na República da Irlanda. Rodrigo tem 20 anos e já completou cinco semestres ("ou quase isso", como prefere dizer) do curso de Ciências Contábeis na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No início deste ano, decidiu trancar a faculdade para buscar "mais uma experiência de vida diferente do comum" e contou com o apoio de sua família e amigos para que alcançasse tal objetivo. Visitamos o apartamento no qual atualmente mora, no coração da capital irlandesa, e fizemos algumas perguntas a ele a fim de descobrir um pouco mais sobre essa sua aventura no outro lado do Atlântico.


Rodrigo, conte-nos um pouco sobre como e por que você decidiu trancar seus estudos no Brasil para encarar essa experiência na Europa.

Bom, eu achava que o momento era esse. Em março de 2009, eu recém tinha voltado da minha primeira experiencia de intercâmbio, na qual morei e trabalhei em Salt Lake City, nos Estados Unidos. Quando eu voltei, eu estava decidido a me concentrar nos estudos, adiantar a faculdade e iniciar uma boa carreira na área de contabilidade. Comecei a me preparar para alcançar esse objetivo e em agosto do mesmo ano fui contratado por uma das grandes empresas mundiais de auditoria contábil.

Infelizmente, a realidade das aulas da faculdade e a realidade do meu emprego não estavam me agradando. Sentia uma profunda insatisfação e uma revolta com tudo que estava à minha volta. Achava as aulas extremamente desinteressantes e o meu ambiente de trabalho um completo inferno. Sabia que não aguentaria aquela situação por muito tempo e que eu não merecia uma vida como aquela. Eu estava sozinho em meio a loucos repugnantes e me sentia totalmente vazio.

Era hora de mudar. Precisava conhecer lugares, conhecer pessoas. Precisava encontrar algo diferente, algo que preenchesse o meu vazio. E eu estava disposto a isso, tinha toda vontade e coragem necessária. Foi então que o Cesar e o Vicente, meus amigos e colegas da UFRGS, surgiram com a ideia de morar por 1 ano na Europa. Eles me convidaram e eu aceitei. Na época do convite eu estava recém iniciando no meu novo emprego, porém eu já estava de saco cheio de tudo. Eu senti que o momento de fazer isso era aquele, era agora ou nunca, uma chance única na vida. A oportunidade apareceu e eu aceitei na hora.


Fale um pouco sobre a sua rotina em Dublin, coisas que você geralmente gosta ou não gosta de fazer e também um pouco sobre a cidade em si.

Bem, o esqueleto do meu dia-a-dia é formado pelo curso de inglês, que começa às 9h45 e vai até às 13h. As aulas são bastantes dinâmicas e divertidas, então não é nenhum sacrifício acordar cedo para ir até a Delfin. Após a aula, a gente se reúne juntamente com o Paluza - no apartamento dele ou no nosso - para fazer o almoço. Levamos umas boas duas horas para preparar, cozinha, degustar e limpar tudo. Temos um cardápio que já está bastante diversificado, variando entre pratos que envolvem receitas com massa e vários tipos de molho, arroz, frango, ovos, coração de galinha, carne moída, peixe, brócolis e outros. Para quem no início sobrevivia apenas de massa, isso já um fenomenal avanço!

Terminado o almoço, agora no inverno possuímos apenas mais cerca de uma hora de luz solar. Esse fato, em conjunto com o frio e a sujeira que é a neve, acaba desencorajando uma eventual saída (ou aventura!) fora de casa. Contudo, quando tenho vontade - ou por necessidade -, acabo dando uma volta pela cidade, indo ao banco, ao supermercado para comprar coisas ou passando pelas lojas da Henry Street pra dar uma olhada. No verão eu costumava ir até o parque St. Stephen`s Green para ler e relaxar na grama enquanto tomava um café, mas agora isso não é mais possível. Então, se eu opto por ficar em casa, eu aproveito meu tempo para ler, estudar, escutar música, escrever para o meu blog, conversar com amigos e ver coisas interessantes ou inúteis na internet. Atualmente estou lendo "On the Road" de Jack Kerouac e também tenho ocupado meu tempo com os cursos que a Universidade de Yale disponibilizou de graça há algum tempo no seu website para aqueles que tenham curiosidade. Os cursos de psicologia, filosofia e música são bem interessantes!

À noite, eventualmente acontecem encontros ou festas com amigos ou colegas de curso em algum pub ou algum jogo de futebol que a gente acompanha pela internet. Caso contrário, eu fico em casa, ajudo na preparação da janta e continuo fazendo alguma das coisas que citei anteriormente. Todas as terças, também há uma oficina de teatro da qual participei durante um mês, inclusive ajudando no backstage de uma peça muito bem produzida. Porém, confesso que durante o mês de novembro tem faltado motivação da minha parte para caminhar por 40 minutos para ir e 40 minutos para voltar sob uma sensação térmica de -5°C.

Enfim, Dublin não é uma cidade muito grande. Isso pode ser um ponto positivo se analisado pela perspectiva de que é possível ir até praticamente todos os pontos interessantes da cidade caminhando. No entanto, realmente não há muitas opções de entreterimento, especialmente durante a temporada de neve. Prefiro muito mais uma cidade como Londres, onde é necessária a utilização do metro para chegar em diversos lugares, mas que, por outro lado, possui um leque de opções infinitmente maior.


Você tem a fama de ser um grande apreciador da vida noturna. Você considera Dublin uma boa cidade nesse quesito?

 Não sei onde vocês conseguiram essa informação! (risos). Mas seja lá quem for o informante, ele não está mentindo. Realmente uma das minhas grandes paixões é sair com os meus amigos para dançar e me divertir em alguma festa com música boa e pessoas legais. Quando eu ainda estava no Brasil, eu tinha a ideia de que as festas em Dublin seriam extremamente melhores do que as que eu frequentava em Porto Alegre. Fiquei bastante desapontado quando percebi que a realidade era bem diferente daquilo que eu havia projetado. Entre os pontos negativos, posso destacar o horário de funcionamento das festas. Elas começam a "bombar" perto de 00h30, mas às 2h30 já estão se preparando para fechar as portas. Duas horas pra mim é muito pouco! Além disso, aqui temos uma espetacular oferta de pubs com boas bandas tocando música ao vivo, mas quando o assunto é festa, balada mesmo, a oferta diminui drasticamente. É bem difícil achar algum lugar interessante para ir.

Olhando por outra perspectiva, talvez eu não considere as festas daqui tão boas quanto às do Brasil por motivos mais subjetivos. Por exemplo, segundo o meu critério, para eu classificar uma festa como excelente eu preciso de apenas três elementos: um grupo de amigos animados, música boa e bebida barata. Aqui em Dublin eu só encontro um lado dessa espécie de triângulo criada por mim: a música boa. Bebida barata é muito difícil, pois a Irlanda é um dos países em que os alcoólicos têm o preço mais alto da Europa. Quanto ao grupo de amigos animados, é também uma questão complexa, pois o nosso círculo de amizades é muito dinâmico. Toda semana grandes amigos, ou potenciais amigos, voltam para seus países de origem, sem que haja tempo suficiente para fortalecer uma relação de amizade mais madura com eles. Logo, fica bastante complicado de eu achar alguém que acompanhe meu ritmo!

Todavia, tudo tem o seu lado positivo, por mais que o lado negativo impere. No caso, com essa experiência, eu vou passar a dar muito mais valor ao que eu tenho na minha terra, não é verdade? Lá eu sei que o meu triângulo vai estar completo!



Você divide o apartamento com outros dois amigos seus. Como está a relação entre vocês três vivendo juntos no mesmo apartamento após tantos meses?

Está muito boa. Antes de virmos para cá, algumas pessoas falavam que, por mais que já fossemos bons amigos, teríamos problemas devido ao longo tempo de convivência. Até agora, felizmente isso não ocorreu e acredito que nem irá ocorrer. Nós nos respeitamos bastante e tudo funciona na base do bom senso. Por exemplo, não possuímos nenhuma espécie de regra ou programa a seguir para decidir quem vai cozinhar, limpar a casa ou lavar a louça no dia. Tudo acontece espontaneamente. Se eu não estou a fim de ajudar na preparação da comida, eu vou ajudar depois na limpeza da cozinha e vice-versa. Não é necessária cobrança entre as partes para que determinada tarefa seja realizada. Essa falta de cobrança e o uso do bom senso evita eventuais brigas ou discussões bobas entre a gente e com certeza é o fator fundamental para a nossa boa convivência.

Há também a questão do "quarto do líder", que é o quarto em que há apenas uma cama e a pessoa pode dormir sozinha. No início, tentamos criar uma regra que dizia que a cada domingo trocaríamos a pessoa detentora do direito de ser o "rei". Entretanto, era muito trabalhoso fazer essa mudança todos os domingos. Depois, tentamos adotar uma espécie de competição cujo vencedor receberia como prêmio o almejado quarto. Porém, se continuássemos com esse método, teria gente que iria conseguir desfrutar da privacidade só agora no mês de novembro! (risos).  Então, com o tempo, acabamos utilizando a regra do bom senso também para esse caso. Quando alguém percebe que já está há muito tempo usufruindo dos inúmeros privilégios que tal quarto pode oferecer, a pessoa oferece essa regalia ao próximo da fila e assim por diante.

Portanto, podemos afirmar que o grupo está fechado, como diriam os jogadores de futebol, ou que a gente é uma família, como diram os BBBs.


Você já conheceu pessoas que você já pode considerar como grandes amigos e de quem você não pretende perder contato no futuro?

Felizmente, posso dizer que sim. Aqui as principais amizades surgem na escola, porém a maioria dos alunos são europeus e vêm para cá para estudar por apenas algumas semanas. Portanto, acabamos criando laços maiores com aqueles que porventura ficam por aqui por um período de tempo maior. É o caso do Rafael Paluza, de Curitiba; a Hyelim Kim, cujo apelido é Lim Lim, da Coreia do Sul; a Sara e o Alex, da Itália, e o Oscar, de Madri.

O Paluza eu conheci por acaso pela internet quando ainda estávamos no Brasil. Tornamo-nos amigos virtuais e quando ele chegou aqui, um mês depois da gente, ele passou a ser um grande amigo nosso, chegando a morar conosco por algumas semanas enquanto procurava um apartamento para ele. Agora ele mora aqui perto e está toda hora enchendo o nosso saco! Com certeza manteremos o contato com ele quando estivermos no Brasil, seja em Porto Alegre, seja em Curitiba ou em outra cidade qualquer.

A Lim Lim é uma coreana que possui um coração enorme. Está sempre de bom humor, ri de qualquer coisa, participa de todas nossas festas, está sempre disposta a ajudar... Enfim, um exemplo de amiga. Além disso, de vez em quando ela cozinha um delicioso jantar coreano para a gente e quase em todo o intervalo de aula ela me dá um chocolate! (risos). Ela disse que gostaria muito de visitar o Brasil, o que eu penso que seria uma experiência muito engraçada e que eu adoraria que acontecesse!

A Sara e o Alex são um casal meio, digamos, exótico. Demoramos um mês para perceber que eles eram namorados, pois o relacionamento deles é estranho assim mesmo. Mas, o que importa, é que ambos são pessoas maravilhosas. Foram excelentes amigos enquanto estiveram aqui em Dublin e, quando visitamos a cidade deles na Itália, eles foram duas vezes excelentes. Mostraram-nos toda Brescia e nos presentearam com uma cesta básica de comida italina, que, claro, é "a única comida que presta no planeta". A Sara virá nos visitar novamente semana que vem e ela pretende ir ao Brasil em 2011, assim como a Lim Lim. Estamos ansiosos para que isso ocorra também!

Já o Oscar foi o cara que mais agitou Dublin e a Delfin na história. Com seu jeito hiperativo, engraçado e companheiro, foi outro grande amigo nosso durante o verão. Não havia final de semana sem festa e quarta-feria sem Diceys quando ele estava aqui. Semana passada, ouvimos uns gritos vindos do lado de fora da casa e, quando vimos, era ele batendo na nossa porta. Ele veio de surpresa passar um fim de semana com a gente. Curtimos bastante e todos nós sabemos que temos um lugar para ficar quando estivermos em Madri e a recíproca é verdadeira caso ele visite Porto Alegre.

Fico muito feliz ao pensar nas amizades que fiz aqui. Isso só deixa mais claro que o mundo é realmente enorme e que podemos encontrar pessoas especiais em qualquer canto do planeta. Meio piegas, mas é a realidade.


No início da entrevista, você disse que no Brasil você sentia que faltava alguma coisa no seu interior. Você conseguiu achar aquilo que você procurava para preencher o seu "vazio"?

Não. E não creio que um dia eu vá achar, pois nem sei o que é! (risos). Falando sério, acredito que o vazio era apenas um estado de extrema insatisfação com tudo e uma vontade enorme de conhecer coisas novas, de sair daquela pacata rotina. Era também uma busca por novas visões que de alguma  forma pudessem agregar ao modo como eu vejos as pessoas e o mundo. Obtive isso no meu primeiro intercâmbio porém precisava de mais visões. Foi viciante. Se o vazio era realmente isso, então eu posso afirmar que encontrei o "recheio", mesmo que eu não tenha percebido do que ele é feito ainda.


Então quer dizer que você se considera satisfeito com essa sua experiência?

Ainda não, pois ainda não colhi seus frutos, mas espero fazê-lo no futuro. Vou explicar: enquanto eu vivia nos EUA e logo depois que eu havia voltado para o Brasil, eu pouco tinha mudado na minha forma de analisar os fatos. Porém a mudança foi ocorrendo aos poucos, ao longo dos meses seguintes. Eu comecei a achar muito curioso o comportamento das pessoas sobre determinados assuntos e passei a indagar muito a "lógica natural" imposta pela socieade em algumas áreas. Foi uma mudança interessante e positiva, no meu ponto de vista. E, na minha opinião, foi resultado da minha viagem. 

No entanto, no momento em que estamos "vivendo a viagem" talvez não sejamos capazes de assimilar tamanha quantidade de novas informações nem a dimensão e a grandeza disso tudo. A mudança vem com o tempo, depois de reflexões, depois de baixar a poeira. Só então torna-se possível analisar os pontos bons e ruins das esferas "vida agora" e "vida fora" e escolher aqueles que melhor se moldam à sua personalidade e à sua percepção de mundo.


Você não sente saudades da sua cidade, da sua família e de seus amigos? Como lidar com isso?

Claro que sinto e acredito que todo mundo sentiria. Porém é preciso ter em mente que a saudade faz parte do momento e o momento vale a pena. Já parei algumas vezes para pensar como seria se eu decidisse voltar para casa agora e percebi que, além da saudade, o que me faz ter vontade de retornar é a curiosidade de ver como as coisas estão na minha "vida real", se é que posso chamá-la assim. A questão é que, por experiência, eu sei que continua tudo praticamente igual. E isso choca bastante a gente nos primeiros momentos pós-retorno, pois temos a noção de que 3 meses ou 1 ano é tempo demais, quando na verdade não é. Foi incrível como eu fiquei em "estado de choque" nas primeiras semanas após o retorno dos EUA. Eu reclamava para minha mãe que estava me sentindo estranho, mas não sabia explicar por que! (risos).

Observando agora, talvez esse meu "estranho" fosse fruto das expectativas que eu tinha de que muita coisa estava diferente, sendo que absolutamente nada havia mudado na minha vida. Por isso eu me esforço pra anular a curiosidade e tento me concentrar nas coisas boas que acontecem ou que podem acontecer por aqui. Quando tudo começa a entrar numa monótona rotina, é hora de criar ou viver algo novo. E é isso que venho tentando fazer.

Por outro lado, anular a saudade é algo mais complicado, senão impossível. O que podemos fazer é minimizá-la através da internet, o que muitas vezes tem o efeito contrário, pois compartilhar bons momentos virtualmente não é nem de perto a mesma coisa do que na realidade. Então a vontade de estar fisicamente ao lado da pessoa de quem tu gosta acaba aumentando! Não há o que fazer, mas, pessoalmente, eu tento manter a ideia de que "um ano passa muito rápido" bem viva na minha cabeça. Talvez adiante para algo.


Para finalizar, quais seus planos para o seu futuro próximo?

Fazer com que a segunda metade da minha viagem seja tão proveitosa quanto a primeira. Já estou bastante ansioso para a próxima semana, pois será a "semana dos shows", um termo bastante criativo criado por mim e pelo Cesar. (risos). Estou muito feliz com a oportunidade de poder ver ao vivo Vampire Weekend, Arcade Fire, Two Door Cinema Club e Kings of Leon. Aliás, esqueci de comentar antes, mas um ponto fortemente positivo a respeito de Dublin é a questão dos shows. Aqui temos inúmeras oportunidades para presenciar as melhores bandas do momento. Muito provavelmente 2010 será o ano em que eu mais terei ido em shows na minha vida. Bom, nunca se sabe, né? Mas é o que tudo indica...

Para o final de ano, já estamos com tudo reservado para passar o Reveillon em Londres, o que também será um momento inesquecível. Eu amei a semana que passamos na Terra da Rainha em setembro e fico muito animado ao pensar que poderei aproveitar mais alguns dias por lá. E durante o ano novo ainda por cima! Demais!

Durante os dois primeiros meses de 2011, vou me concentrar em terminar meu curso de inglês e curtir meus últimos momentos na Irlanda, pois em março irei para Berlim. Decidi mudar meus planos iniciais e ir estudar alemão em um curso intensivo na capital germânica por três meses. Essa ideia surgiu após visitar o país em outubro e ter gostado muito do que vi. Somou-se a isso o fato de que tenho um forte interesse pela língua alemã e também o apoio dos meus pais, para que assim eu pudesse concretizar mais esse sonho. Acredito que será mais uma vivência impagável e creio que Berlim tem muito mais a minha cara do que Dublin. Vamos ver. Vamos viver!

Finalmente, em junho voltarei para Dublin por alguns dias para dar um adeus para os amigos que aqui ficam e, em seguida, se nada mais sair dos seus trilhos, eu viajarei de volta para o Brasil.


E pro futuro a longo prazo?

Sinceramente? Não sei. Não faço a mínima ideia... São tantas coisas que podem acontecer que é sempre bom deixar uma página em branco para poder escrever quando a vontade e a necessidade aparecem."


Dublin,  29 e 30 de novembro de 2010