terça-feira, 5 de julho de 2011

abaixo de zero

Um ano de frio, de muito frio. Frio que faz minha respiração servir apenas pra produzir o bafo que vai virar um desenho torto no vidro da janela. Frio que consegue congelar minhas lágrimas antes que elas possam sair da prisão dos meus olhos. Frio capaz de transformar essas mesmas lágrimas em duras e salgadas pedras de gelo, que mastigo e devoro com um prazer sombrio. Frio que assusta o sol, que - com medo de perder o seu calor - deixa tudo escuro. Tão escuro que nem mais a faísca que sai dos teus olhos conseguem me esquentar, ou, ao menos, me guiar. 

Um ano entrando no fundo do meu guarda-roupa todos os dias, sempre procurando o blusão mais bonito, o mais quente. Em vão. Nunca é o suficiente, é frio demais. Frio que gera neve que tudo encobre, todos os planos, todas as certezas. Tudo bem devidamente perdido dentro do frio.
Soterra.

Mas eu não me importo. Quando o sol tiver coragem, ele volta. Então tudo vai ficar claro como seu brilho imponente. E toda aquela brancura vai se derreter. E tu vai te derreter mais ainda, pois vão aparecer as flores mais coloridas e perfumadas que tu já pode ver, sentir, tocar. As flores mais bonitas, eu prometo! Ou então...
...só terra.
.