quinta-feira, 30 de junho de 2011

Passado distantíssimo

Em algum bar, há muito tempo, em algum lugar do Rio Grande do Sul:

- E se teu filho que vai nascer não for Católico?
- O que que tem?
- Eu digo, como tu vai reagir, como tu vai lidar com isso?
- Normal, ué! Qual é o problema?!
- Ah, tu sabe, tem muitos problemas, as outras pessoas vão ficar falando...
- Pois pra mim não tem problema algum. Eu felizmente já não me importo com a opção religiosa das pessoas.
- Eu sei, eu também não tenho preconceito algum, longe de mim... Mas tu sabe como é... Se eu pudesse escolher, eu não vou mentir que preferiria mil vezes que meu filho fosse Católico.
- Pra mim que ele seja o que ele for, pra mim realmente não faz a menor diferença. Já não consigo mais entender essa preocupação toda com esse assunto...
- Ah, tu sabe que se ele não for Católico ele vai sofrer muito, né?! Imagina na escola o tanto de preconceito que ele vai ser vítima! Todos os colegas rindo da cara dele e ele chegando em casa triste, traumatizado, coitado. Aí depois tem que até procurar psicólogo pro guri, depois psiquiatra, remédio tarja preta, essas coisas... Infeliz...
- Infeliz?!
- Sim, infeliz! E agora imagina todo mundo, todos os amiguinhos dele, rezando Pai Nosso, Ave Maria, agradecendo Jesus pelas bençãos que Ele nos oferece... E teu filho lá num cantinho, excluído, ou pior, tendo que fingir uma prece sem acreditar ao menos em uma palavra da oração. Tadinho...
- Mas...
- E isso sem falar nas oportunidades de emprego perdidas, na violência gratuita contra ele, no mau olhar do Padre José e seus seguidores! Pobre...
-  Porra, tu fala de um jeito como que se quem não fosse católico fosse um miserável incapaz de ser feliz!!
- Não é isso, tu sabe que eu sou um cara bem mente aberta, mas toda essa gente do Padre José... Tu conhece eles... Eles nunca aceitariam alguém não Católico na comunidade e até eu e minha esposa sofreríamos as consequências caso nosso filho fosse um deles.
- E isso lá vai ser culpa do meu ou do teu filho?! Isso é culpa das pessoas que não aceitam que ele tenha a sua própria religião! Felizmente o mundo é imenso e existe uma infinidade de pessoas, muitas delas com ideias e características semelhantes às nossas, com as quais um bom relacionamento é possível. Com certeza haverá espaço de sobra, aqui ou em qualquer outro lugar, para que meu filho seja tão feliz quanto qualquer um, sendo católico ou não.
- Mas...
- A questão é que eu realmente não me importo com a religião dos outros e, inclusive, acho que as pessoas se preocupam demais com um assunto como esse, que no fim não vai fazer a mínima diferença na vida delas.
- Mas então pra ti realmente não faz diferença alguma se teu filho for um "não Católico"?!?
- Não!!! E acho incrível como as pessoas ainda se chocam com isso. A vida é exatamente ISSO! Não há motivo pra "exigir" uma uniformidade, poxa...
- Hmm, to começando a desconfiar que tu é um baita ateu, hein...
- Olha, se isso é de extrema importância pra ti, eu te digo que não, eu não sou ateu.
- É que eu não consigo entender... Como eu te disse, eu preferiria que meu filho fosse Católico. E olha que eu sou um cara totalmente sem preconceitos!
- Tá bom, depois continuamos esse assunto, nossas bebidas estão chegando...
- Finalmente!
- Um brinde! ...Que foi? Algo errado??
- É que esse piá me trouxe vinho branco em vez do tinto que eu tinha pedido. Ele sempre erra os pedidos! Só podia ser um crioulinho mesmo...

---

Ainda bem que atualmente não existe nada parecido com isso, não é verdade?

.