terça-feira, 16 de março de 2010

O mundo não é só aqui

O mundo é gigante, mas poucos tem a iniciativa de conhecê-lo. Preferimos nos estabelecer em algum lugar e ali criar uma rotina. Lenta e sem graça. Porém segura.

Às vezes, nas férias, acontece uma viagenzinha rápida para algum lugar. Mas tentamos não nos envolver muito com os novos ares. Preferimos ficar isolados em hotéis e visitar o maior número de shoppings possíveis para trazermos objetos “de fora”.  Além disso, visitamos lugares que “temos que visitar”, mesmo que não nos atraiam nem um pouco. Os museus são bons exemplos. Eu não me interesso muito em museus, não me lembro de ter visitado algum em Porto Alegre ou Viamão. Entretanto, já fui em vários museus de cidades que visitei, pois reza a lenda da sociedade que devemos visitar museus quando viajamos. E as minhas visitas foram um tédio...

Eu acho que viagem válida é aquela em que deixamos a nossa cultura de lado e tentamos absorver ao máximo os costumes do local visitado. Temos que esquecer o rótulo de “turista” e agir como alguém que quer se adaptar ao novo habitat. Fazer coisas que as pessoas nativas fazem. Elas gostam de ir à Igreja sábado à noite? Vamos experimentar! Elas gostam de visitar museus domingo à tarde? Por que não?!

Desse modo conseguiremos enxergar melhor o tamanho do mundo em que a gente vive e a diversidade quase infinita de pessoas, hábitos e culturas que existem. Em posse dessa visão, podemos selecionar as coisas com as quais mais nos identificamos, aquelas que mais nos completam, que nos deixam felizes. E assim a gente vai mudando, evoluindo - na busca do que nos agrada.

Infelizmente, para a maioria o mundo é minúsculo. Resume-se à cidade onde vive, onde trabalha. Limita-se às pessoas do seu círculo de amizade, aquelas que geralmente pensam e agem da mesma forma que a da própria pessoa. Diferenças não devem existir. São um abuso! Uma loucura! Todos devem se comportar seguindo um padrão, vestindo-se com o mesmo estilo de roupa, tendo pensamentos e opinões iguais. Não é igual?! Então vamos rir, desdenhar, humilhar! Sem ao menos se dar ao trabalho de conhecer ou tentar compreender, óbvio.

Eu era assim. Mas o meu intercâmbio para os EUA abriu minha mente para a grandeza do mundo e aprendi a respeitar o diferente. E é por isso que estou indo para a Irlanda, estou em busca de mais experiências como essa. Estou em busca da mudança, da evolução. Daquilo que me agrada. 

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Sugiro que todos façam uma viagem válida pelo menos uma vez na vida. Para aqueles que ainda não podem, sugiro que apenas tenham a noção de que o mundo não é só aqui. Isso já é o bastante.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Quando os diferentes são iguais

A pedidos do leitor Cesar B., segue um texto sobre drogas:

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Não consigo mais viver sem essa droga. Se eu não uso eu não consigo dormir. Se eu não uso eu não sou feliz. Se eu não uso me sinto louco, depressivo, sem ânimo. Se eu tivesse parado de tomar essa droga eu já teria morrido há muito tempo. A droga me deixa meio anestesiado, sem conseguir raciocinar muito. Mas eu dependo dela. Ela é meu combustível. Ela é capaz de amenizar meus problemas. Ela me faz bem. Eu não consigo mais parar.

Só que a droga está acabando.

E agora?!?!

 Desespero!!!!

Desespero...

Alívio.

 Ainda tenho uma receita médica na minha gaveta. Obrigado ao meu psiquiatra.

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Tem certas coisas que a sociedade condena.
E tem outras coisas que a sociedade apoia.
Só que na essência essas duas coisas são iguais.

Vamos refletir...

terça-feira, 2 de março de 2010

Cuidado com a sua camisa

Estou escrevendo isso durante o trabalho. É apenas mais uma entre outras “irregularidades” que estou cometendo.

Aqui o cabelo tem que ser curto e bem aparado. O meu está comprido – faz mais de 3 meses que não corto -, meio estilo argentino, meio estilo Kings of Leon... A barba não pode existir. A minha está naquele estágio de crescimento, fica aquela coisa meio rala/falhada. Sem falar nas inúmeras outras regras que temos que seguir.

 Por exemplo, temos que trabalhar de roupa social, mas não podemos utilizar camisa escura, pois “camisa escura não transparece credibilidade”. Tem que ser clara.

Faz meses que eu fico pensando na possível relação entre cor da camisa e credibilidade. Ainda não achei nenhuma. O máximo que me explicaram foi que os vilões das novelas sempre estão com camisa escura. Além de eu nunca ter reparado nisso, eu achei esse argumento, no mínimo, estúpido.

Na verdade, o que eu acho que aconteceu foi o seguinte: certo dia o grande diretor da empresa foi perguntado sobre o porquê de sempre usar camisas claras. Ele então respondeu que camisas claras traziam muito mais credibilidade à sua imagem. Era só reparar no vilão sem credibilidade alguma da novela (o Marconi Ferraço ou qualquer outro) – ele sempre vestia camisas escuras!

Como o grande diretor tinha poder sobre os demais, já que todo mundo queria estar no lugar dele – ou melhor, ter a conta bancária dele -, essa teoria sem embasamento algum foi levada adiante. Ninguém teve coragem de contestar o grande mestre. Todo mundo passou a crer cegamente que camisa escura não transparece credibilidade. Ninguém se deu ao trabalho de parar, analisar e pensar “Ei, isso faz algum sentido? A cor da minha camisa é capaz de influenciar a minha personalidade?”

Foi mais cômodo seguir as regras e padrões estabelecidos (atenção nesse ponto). E coitado de quem for trabalhar com alguma camisa que tenha cor que não seja clara. Será alvo de brincadeiras, ganhará apelidos, será chamado atenção. Na verdade, será o centro das atenções – de uma forma negativa.

Quando recém tinha entrado na empresa eu utilizava com freqüência minhas camisas pretas, por motivo de gosto pessoal. Encheram tanto o meu saco que num determinado momento eu pensei “tá bom, eu desisto. Vou fazer como vocês querem. Me deixem em paz!”.

E agora só utilizo minhas camisas azuis, brancas, lilás (lilases?) e afins.

Mas o que é relevante é que essa história da camisa funciona pra várias outras “lendas e regras” inventadas, acreditadas, seguidas e impostas pela sociedade. Alguém diz que algo é certo sem explicação racional alguma; pessoas aceitam passivamente essa regra; começam, então, a segui-la e colocam pressão para que todas as outras pessoas também a sigam. E ai de quem for diferente!

No caso da camisa eu não tive forças pra continuar lutando. Desisti da liberdade em poder usar a camisa que mais gosto. Mas pelo menos eu percebi que cor da camisa não tem anda a ver com credibilidade e que ninguém aqui tem coragem de contestar essa falsa verdade. E a percepção já é um início. Já é válida...


PS.: Hoje pedi demissão do meu emprego.