domingo, 31 de outubro de 2010

Cores e Sabores

E temos uma presidente. Concordo com a escolha, pois – entre outros motivos - ainda não era hora de mudar e agora nosso estado vai estar alinhado com o país. Entretanto, creio que 90% dos meus leitores discordam da minha opinião e acho que todo mundo já está saturado do assunto Eleições. Então vou mudar de rumo antes que meus já poucos passageiros decidam descer do ônibus.

Ontem era dia de Halloween. Aos que não sabem (assim como eu não sabia), o Halloween é um evento que surgiu aqui na Irlanda, apesar de ter adquirido maior fama através dos EUA. Foi interessante observar que as pessoas realmente levam a sério esse negócio de fantasia. Foi engraçado ficar parado na frente do Tesco (o supermercado que salva as nossas vidas por aqui) e ver inúmeros zumbis, vampiros, gente "sangrando", cara pálida, olho roxo passando pela Parnell Street.

Obviamente, assim como no Brasil, Halloween não é Halloween sem festa à fantasia. É aquela clássica semana com a pergunta mais clássica ainda – “vai de que?”. Eu, ignavo que sou (procurei uma palavra mais legal para me descrever), não sou muito adepto a festas à fantasia. É muito trabalhoso pensar em algo e depois correr atrás pra que esse algo fique realmente bom. Prefiro ficar nos acessórios mesmo. Então eu de última hora comprei uma máscara infantil de diabo e coloquei um óculos mais, digamos, diferente. Pelo menos assim eu não me senti tão “fora do grupinho”. Mas também tive que exercitar minha criatividade ao tentar explicar a minha escolha para outras pessoas.

A festa foi bem divertida. Aliás, não teria como não ser divertida, pois ela foi dentro da nossa escola junto com nossos colegas, diretor, secretárias e professores - todos fantasiados e devidamente alcoolicamente alterados. Essa interação é o que eu acho o mais legal da Delfin, pois como já diria o slogan “Delfin is different”. Pra fechar a noite bem, ainda houve tempo pra tradicional filosofia de bêbado sem sentido algum com o Cesar antes de dormir. Nessas horas que eu penso que seria legal se tivesse uma câmera nos filmando 24 horas!

O domingo foi um típico domingo de qualquer lugar do mundo. Ressaca, cansaço e preguiça. Ainda mais que a sexta-feira também foi um dia um tanto quanto movimentado devido ao show da Lady Gaga em que fui junto com o Paluza. O show e a sua estrutura são incríveis. Porém o público irlandes novamente não foi dos mais animados. E teve um outro problema: exagerei demais na concentração e boa parte do espetáculo resume-se a alguns flashes na minha cabeça. Voltei pra casa já indignado com o meu próprio exagero e expressei minha revolta pros guris com uma atuação etilicamente magnífica (de novo, cade a câmera 24h?!). Depois fui afogar as mágoas com algumas vítimas que eu selecionava aleatoriamente no MSN e Facebook. O legal foi que falei com gente que eu tinha adicionado mas nunca tinha conversado antes na vida! Algo do tipo, "Oláá X, como vai você?! Eu acabei de voltar do show da Lady Gaga, tava muito bom! Espera aí, quem é você mesmo??". Tudo isso desconsiderando os incontáveis erros de escrita como "tomara que eun soncsga", que a Júlia hábil e prontamente conseguiu traduzir pra "tomara que eu consiga".

Falando nisso, alguém poderia inventar um bafômetro pra computadores que impedisse a utilização dos mesmos caso detectado o menor sinal de embriaguez, pois a combinação “PC + Álcool” é tão perigosa quanto a famosa “Álcool + Carro”. O mais incrível é que na hora do ato a gente já percebe que está falando o que não deveria, mas mesmo assim continua pois “não vai dar nada”. Então a pessoa vai dormir e acorda várias vezes durante a noite, sendo que cada vez que ela acorda há menos álcool no seu sangue. Logo, conforme ela vai acordando, o “não vai dar nada” muda para:

1 – Talvez não dê em nada;
2 – Vai dar alguma coisa, mas não vai ser nada;
3 – É... Vai ser alguma coisa sim;
4 – Seu idiota;
5 – Ainda tenho esperança que tudo isso tenha sido um sonho e nada disso tenha acontecido.

Até que a pessoa acorda, confere pra ver se não era mesmo um sonho e descobre que tudo foi bem pior que ela imaginava... Felizmente eu já sou mestre em lidar com essas situações e elas praticamente já estão incorporadas ao meu ser.

O que eu não consigo superar é a minha dificuldade em lembrar de pessoas. Não apenas do nome delas, mas também da fisionomia. Essa semana descobri que uma guria de Viamão (sobre quem a Júlia e a Mel viviam falando) é minha vizinha aqui em Dublin! Falei com ela pela janela e perguntei se ela me conhecia. Ela respondeu com um “Claro” bem claro e perguntou, de uma maneira mais cinza, se eu não lembrava dela. Eu respondi de uma forma marrom que não. E de cores fomos pra gostos. Uma salgada explicação de quem ela era, um azedo tempo pra pensar e por fim um doce “Ahhh, sim, agora lembrei!”. Amarga mentira.

Talvez isso aconteça por falta de atenção minha, por esquecimento, por alguma doença ou transtorno... Sei lá! Só sei que isso me incomoda bastante, pois as pessoas devem pensar que eu sou um grande mal educado ao não cumprimentá-las na rua. Gente, eu juro, não é por mal, eu apenas não lembro! Eu amo todo mundo!!!

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1h da manhã aqui já, hora de dormir. Nesse momento estou eu no sofá, Cesar na mesa com o seu PC (por algum motivo ele ainda tá usando a tiara de diabo que achamos no chão da festa) e Vico deve estar dormindo no quarto. Ao fundo toca Bon Jovi. Amanhã já começa mais uma semana de aulas e de busca por emprego. Ah, também ajudarei no backstage das apresentações da peça do meu grupo de teatro durante essa semana. Algo, no mínimo, curioso. 

Bom, esse texto foi bem diferente dos que eu costumo escrever por aqui, mas espero que gostem mesmo assim.

Até mais.

sábado, 23 de outubro de 2010

Eu, Me, Ich, Yo

Por que será que antes da viagem o blog estava tão mais ativo? Que força existia antes que agora parece não existir mais? Será que é apenas preguiça ou tem algo menos superficial por trás disso tudo?

Esta atualização eu dedico a mim. Alguns minutos de sinceridade comigo mesmo.

Lendo alguns textos do início desse ano fica claro que havia algo que me incomodava muito. Talvez a rotina, talvez as pessoas, talvez a cultura, talvez o não saber pra onde ir. Um campo aberto coberto por nuvens carregadas  onde eu podia correr - mas sem chegar a lugar algum. Bom, pelo menos tinha um aeroporto logo ali. E era ele que me inspirava. “Ele que vai me salvar!”

Cinco meses já.  Talvez eu tenha pego o avião errado, mas pousei no mesmo lugar em que havia embarcado. Mesmo campo, mesmas nuvens. Porém agora não acho as flores que eu costumava admirar e que me faziam companhia. Saudades delas. E o aeroporto já não está mais tão dourado quanto antes; já não me inspira mais quanto antes. Deu uma enferrujada.

Ainda tenho esperança de correr pra direção certa. O rio deve estar logo ali, uma hora eu vou me deparar com ele. Tempo para achá-lo eu continuo tendo. E esperança? Também. Afinal, o cenário pode ser o mesmo, mas a peça nunca será. A cada apresentação é necessário improvisar, e a improvisação - o inesperado/diferente - é que nos traz experiência e aprendizado. Ela faz com que os nossos olhos se abram e enxerguem o mundo com lentes diferentes das lentes opacas que a maioria prefere utilizar.

É melhor aceitar e experimentar do que morrer com a dúvida. Ainda possuo esse pensamento e essa vontade. Ainda quero mais. Entretanto, também tenho a noção que tudo pode ser mais simples do que eu imagino. Quem sabe com as lentes mais transparentes eu consiga perceber o rio seguindo seu curso calmamente em um lugar bastante óbvio - entre as minhas belas flores.

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Bom, aqui tá tudo bem com a gente. No momento estamos escutando música, bebendo cerveja e tentando imaginar algum lugar legal pra sair nesse sábado. Achar emprego está realmente difícil – e juro que não é papo de preguiçoso que fica em casa dormindo e não procura, hahaha. Nessas horas penso como nos EUA era fácil. Fui pra lá no meio de uma crise gigante e em 15 dias achei um emprego sem ter experiência alguma. E no final da viagem ainda me procuraram pra oferecer emprego em um cinema onde eu tinha me candidatado alguns meses antes.

Agora o tempo aqui está realmente muito frio, o que nos faz ficar mais em casa. Nossos amigos antigos já voltaram em sua maioria para seus países – o que por outro lado pode ser bom, pois é uma oportunidade de fazer novas amizades. O que eu estou buscando agora é viver o mais próximo possível da realidade dos irlandeses. Na última terça, por exemplo, comecei uma oficina de teatro muito parecida com a do TEPA. Foi uma experiência muito interessante e divertida, continuarei no grupo com certeza.

E as expectativas pras próximas semanas não são das piores. Muitos shows junto com o Paluza (Lady Gaga, Foals, Gogol Bordello, Klaxons, Vampire Weekend, Arcade Fire...) , aniver do Cesar (20 aninhos, uhuuul), provável viagem de fim de ano e logo depois final das aulas de Inglês – que por sinal estão começaaaando a ficar repetitivas.

E eu também estou começando a ficar com raiva dos espanhois e seu sotaque horrível e irritante. Ok, talvez eu esteja um pouco ranzinza... Mas eles não conseguem nem pronunciar "Job" corretamente - isso no nível avançado! É ‘Djób’ e não ‘Ziób’!!!!

Hasta luego, un beso a todos!